terça-feira, outubro 31, 2006

Neologismos socráticos


Alguém me explica o que é uma "Fábrica de Assemblagen de Painéis Fotovoltaicos"? Era feio chamarem-lhe simplesmente "Fábrica de Painéis Fotovoltaicos" ou mesmo "Fábrica de Montagem de Painéis Fotovoltaicos" ? Ou já está tão enraizado o hábito de embelezar tudo, de tudo pintar de côr-de-rosa, mesmo que se fantasie usando uma palavra que, assim como está, com "n" no final, só existe em ...alemão ? Porra, é que nem sequer souberam aportuguesar a pirosice de usar "assemblage".
No mesmo dia: vários alunos manifestaram-se contra os moldes em que são dadas e a própria existência de aulas de substituição. É, para quê aulas se vemos exemplos destes com o beneplácito do primeiro-ministro ?

V. M

segunda-feira, outubro 30, 2006

Para Meditar...

O Ministério da Educação procura, através de um comunicado hoje divulgado, enganar a opinião pública e os professores, sobre sua intenção, explícita, de acabar com as interrupções da actividade docente, previstas no Artigo 91º do Estatuto da Carreira Docente (ECD). E como o faz?! Afirmando que irá manter as interrupções de actividade lectiva. Só que a questão não é essa, mas sim a intenção ministerial de eliminar as interrupções da actividade docente! Parece ser a mesma coisa, mas não é! As interrupções de actividade lectiva são os períodos em que, no Natal, Páscoa e Carnaval os alunos não têm aulas. As interrupções de actividade docente são os períodos em que, naquelas pausas lectivas, terminadas as avaliações e outras reuniões que se realizam, os docentes ficam dispensados de comparecer nas escolas. No entanto, mesmo nessas interrupções de actividade docente, se necessário, os professores podem ser convocados. O actual ECD prevê essas interrupções, bem como as formas de convocação nesses períodos (Artigos 91º, 92º e 93º, que o ME pretende revogar). No comunicado de hoje, do Ministério da Educação, a inverdade transforma-se em mentira quando é referido que, no projecto da Tutela, se apresenta uma proposta sobre a matéria e se indica o seu alegado texto. Só que a mentira desmonta-se facilmente e, para isso, basta consultar a última versão do projecto do ME, datada de 25 de Outubro e que esteve em discussão, durante sete horas, na reunião de dia 27 (pode ser consultada nos sites dos Sindicatos). Na verdade, o artigo 91º é revogado, como se constata na página 58 do documento (artigo 18º - “Norma Revogatória”), e se confirma nas páginas 38 e 39, pois do artigo 87º o ME passa para o 94º. Aliás, se não houvesse a intenção de revogar o artigo 91º que sentido teria a longa e dura discussão que, sobre o assunto, teve lugar na reunião “negocial” , dia 27? É lamentável e pouco séria esta postura do Ministério da Educação! Este tipo de comportamento só pode merecer das organizações sindicais e dos professores e educadores um veemente repúdio.

cata-ventos












Igreja matriz de Souto de Lafões, Portugal

(Foto de alexandre osório, 2006)


QUINTO IMPÉRIO

Vibra, clarim, cuja voz diz.
Que outrora ergueste o grito real
Por D. João, Mestre de Aviz,
E Portugal!

Vibra, grita aquele hausto fundo
Com que impeliste, como um remo,
Em El-Rei D. João Segundo
O Império extremo!

Vibra, sem lei ou com lei,
Como aclamaste outrora em vão
O morto que hoje é vivo — El-Rei
D. Sebastião!

Vibra chamando, e aqui convoca
O inteiro exército fadado
Cuja extensão os pólos toca
Do mundo dado!

Aquele exército que é feito
Do quanto em Portugal é o mundo
E enche este mundo vasto e estreito
De ser profundo.

Para a obra que há que prometer
Ao nosso esforço alado em si,
Convoco todos sem saber
(É a Hora!) aqui!

Os que, soldados da alta glória,
Deram batalhas com um nome,
E de cuia alma a voz da história
Tem sede e fome.

E os que, pequenos e mesquinhos,
No ver e crer da externa sorte,
Convoco todos sem saber
Com vida e morte.

Sim, estes, os plebeus do Império;
Heróis sem ter para quem o ser,
Chama-os aqui, ó som etéreo
Que vibra a arder!

E, se o futuro é já presente
Na visão de quem sabe ver,
Convoca aqui eternamente
Os que hão de ser!

Todos, todos! A hora passa,
O gênio colhe-a quando vai.
Vibra! Forma outra e a mesma raça
Da que se esvai.

A todos, todos, feitos num
Que é Portugal, sem lei nem fim,
Convoca, e, erguendo-os um a um,
Vibra, clarim!

E outros, e outros, gente vária,
Oculta neste mundo misto.
Seu peito atrai, rubra e templária,
A Cruz de Cristo.

Glosam, secretos, altos motes,
Dados no idioma do Mistério —
Soldados não, mas sacerdotes,
Do Quinto império.

Aqui! Aqui! Todos que são.
O Portugal que é tudo em si,
Venham do abismo ou da ilusão,
Todos aqui!

Armada intérmina surgindo,
Sobre ondas de uma vida estranha.
Do que por haver ou do que é vindo —
É o mesmo: venha!

Vós não soubesses o que havia
No fundo incógnito da raça,
Nem como a Mão, que tudo guia,
Seus planos traça.

Mas um instinto involuntário,
Um ímpeto de Portugal,
Encheu vosso destino vário
De um dom fatal.

De um rasgo de ir além de tudo,
De passar para além de Deus,
E, abandonando o Gládio e o escudo,
Galgar os céus.

Titãs de Cristo! Cavaleiros
De uma cruzada além dos astros,
De que esses astros, aos milheiros,
São só os rastros.

Vibra, estandarte feito som,
No ar do mundo que há de ser.
Nada pequeno é justo e bom.
Vibra a vencer!

Transcende a Grécia e a sua história
Que em nosso sangue continua!
Deixa atrás Roma e a sua glória
E a Igreja sua!

Depois transcende esse furor
E a todos chama ao mundo visto.
Hereges por um Deus maior
E um novo Cristo!

Vinde aqui todos os que sois,
Sabendo-o bem, sabendo-o mal,
Poetas, ou Santos ou Heróis
De Portugal.

Não foi para servos que nascemos
De Grécia ou Roma ou de ninguém.
Tudo negamos e esquecemos:
Fomos para além.

Vibra, clarim, mais alto! Vibra!
Grita a nossa ânsia já ciente
Que o seu inteiro vôo libra
De poente a oriente.

Vibra, clarim! A todos chama!
Vibra! E tu mesmo, voz a arder,
O Portugal de Deus proclama
Com o fazer!

O Portugal feito Universo,
Que reúne, sob amplos céus,
O corpo anônimo e disperso
De Osíris, Deus.

O Portugal que se levanta
Do fundo surdo do Destino,
E, como a Grécia, obscuro canta
Baco divino.

Aquele inteiro Portugal,
Que, universal perante a Cruz,
Reza, ante à Cruz universal,
Do Deus Jesus.

Fernando Pessoa, in Mensagem

domingo, outubro 29, 2006

Onde as Ruas têm nome...


rua do travesso, paços vilarigues, região de lafões, portugal
(foto de alexandre osório, 2006)

Foto do dia


(photo taken by anabela santiago, autumn portugal, 2006)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Fronteiras


(photo taken by anabela santiago, Talasnal, 2006)

Descrédito

Ontem, no noticiário da RTP 1, vi o que Sócrates declarou, num comício, sobre as negociações com os sindicatos da área educativa. Vi, logo de seguida, um dirigente sindical negar que houvesse qualquer acordo. Empregou a palavra "mentiu" referindo-se ao primeiro-ministro. Não foi a qualquer pessoa, foi ao primeiro-minstro. Hoje leio no Correio da Manhã

"SÓCRATES NEGA ACUSAÇÕES
Um dia depois de o primeiro-ministro José Sócrates ter dado como certo o acordo entre o Ministério da Educação e os professores nas negociações do Estatuto da Carreira Docente – “Os sindicatos acabaram por concordar. Mais vale tarde do que nunca” –, os visados acusam o Governo de transformar o processo negocial numa “autêntica farsa”.
Mário Nogueira, da Fenprof, exigiu desculpas. Contactado pelo CM, o gabinete de Sócrates garantiu que o primeiro-ministro não afirmou que houve acordo entre Governo e sindicatos, apenas se mostrou satisfeito por os professores terem percebido a necessidade das avaliações. Segundo a mesma fonte, os sindicatos concordaram com a proposta do Governo para a avaliação dos professores – só não aceitaram a imposição de quotas para o topo da carreira. "

Assim mesmo, sem consequências. Se me chamassem mentiroso e eu não o tivesse sido quereria uma explicação, se eu fosse primeiro-ministro haveria um processo por difamação. Mas nada, apenas um desmentido dos mais caricatos que já vi. Já leram bem ?
Que tal alguém abordar o autor do desmentido e propor " Dou-lhe cem contos pela sua gravata e por ir para a cama com a sua mulher" e caso ele respondesse " Está doido, vendia-lhe a gravata por cinquenta mas a minha mulher é sagrada" viesse declarar que a proposta tinha sido aceite ?

V. M.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Pedaços de papel.....



Tristeza não tem fim
Felicidade sim...

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira.

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos de minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo por favor...
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor.

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...


"Vinicius de Moraes"

quarta-feira, outubro 25, 2006

Pedaços de papel.....

terça-feira, outubro 24, 2006

Pedaços de sentimentos...

vale a pena sonhar!

Estórias mundanas...

Nádia passeava pela rua, a chuva escorria-lhe na cara confundindo-se com outras águas. Tinha vindo em busca de um sonho, duma esperança legítima, ser feliz. Acenaram-lhe com promessas, quimeras e ela quis acreditar que o evidente não era a verdade. Chegada a outro mundo, outras gentes, outras formas de vida, Nádia cedo se apercebeu que o que lhe prometeram não era aquilo. A alma não aceitava que seu corpo fosse uma mercadoria. Assim, Nádia voltou a fugir. Só que estava sózinha, sem saber o que e como fazer. Seus olhos por espelharem seu corpo tão belo eram desejados e ela só queria ser pessoa. Fugindo dos abutres que a seguiam exibindo uma gula animalesca, Nádia fugia da vida. Passeava na rua em busca dum sorriso sincero (sem desejo). Não o encontrou!
Seu corpo foi encontrado mas não contabilizado (não existia legalmente). Merda de mundo que trata assim os seus iguais.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Para Meditar...

As Finanças perdoaram à banca o IRS e o IRC que o sector devia ter entregue nos cofres do Estado, a titulo de retenção na fonte, sobre os juros pagos a investidores em obrigações emitidas a partir de sucursais financeiras no exterior, avança hoje o Jornal de Negócios.
O perdão fiscal incide não só sobre o passado, mas também sobre os rendimentos de todas as emissões obrigacionistas que ocorram até 31 de Dezembro de 2006. Só a partir de Janeiro de 2007 é que o cumprimento da Lei passa a ser exigido. A justificação das Finanças para esta situação é que os bancos agiram de boa-fé quando não fizeram as referidas retenções.

Para Meditar...

Fases do ensino em Portugal:

1ª fase (antes de 1974): O aluno ao matricular-se ficava automaticamente chumbado. Teria de provar o contrário ao professor.

2ª fase (até 1992): O aluno ao matricular-se arriscava-se a passar.

3ª fase (actual): O aluno ao matricular-se já transitou automaticamente de ano, salvo casos muito excepcionais e devidamente documentados pelo professor, que terá de incluir no processo, obrigatoriamente um "curriculum vitae" extremamente detalhado do aluno e nalguns casos da própria família.

4ª fase ( em vigor a partir de 2007): O professor está proibido de chumbar o aluno; nesta fase quem é avaliado é o próprio professor, pelo aluno e respectiva família, correndo o risco quase certo de chumbar... Apetece acrescentar uma

5ª fase: Os alunos que saibam escrever o seu nome sem erros, nem precisam matricular-se. Têm acesso directo ao Conselho de Ministros como consultores privados do 1º Ministro, equiparados a Chefe de Gabinete, com direito a subsídio de almoço e de transporte....

sábado, outubro 21, 2006

contratempos


(foto de alexandre osório, vagos, 2006)

sexta-feira, outubro 20, 2006

Para Meditar...

"O umbigo da Ministra da Educação deve ser tão GRANDE que não a deixa ver/ ouvir opiniões diferentes da sua. Há qualquer coisa que não está a funcionar bem no Ministério da Educação. Existe uma determinação em abstracto do que se deve fazer, mas compreensão muito escassa da realidade concreta. O que se passa com o ensino do Português e a aprendizagem dos textos literário é escandaloso. Onde deveria haver sensibilidade, finura e inteligência na compreensão da literatura, há apenas testes de resposta múltipla completamente absurdos. Assim não há literatura que resista. Há tempos, dei o exemplo da regulamentação por minutos e distâncias de determinadas provas. O ministério respondeu-me que se baseavam na mais actualizada bibliografia e que tinham tido reacções entusiásticas perante tão inovadoras medidas. Não me convenceram minimamente. Trata-se de dispositivos ridículos e hilariantes, que provocam o mais elementar bom senso. O problema reside em considerar os professores como meros funcionários públicos e colocá-los na escola em sumária situação de bombeiros prontos para ocorrer à sineta de alarme. Mas a multiplicação de reuniões sobre tudo e mais alguma coisa não permite que o professor prossiga na sua formação científica. Quando poderá ler, quando poderá trabalhar, quando poderá actualizar-se? Não é certamente nas escolas que existem condições para isso. Embora na faculdade eu tivesse um gabinete, sempre partilhado com mais quatro ou cinco pessoas, nunca consegui ler mais do que uma página seguida. Não existem condições de concentração. Pelo caminho que as coisas estão a tomar, assistiremos a uma barbarização dos professores cada vez mais desmotivados, cuja única obssessão passa a ser defenderem-se dos insultos e dos inqualificáveis palavrões que ouvem à sua volta . A escola transforma-se num espaço de batalha campal, com o apoio da demagogia dos paizinhos, que acham sempre que os seus filhos são angelicais cabeças louras. E com a cumplicidade dos pedagogos do ministério. Quando precisaríamos como de pão para a boca de um ensino sólido,estamos a criar uma escola tonta e insensata. Neste benemérita tarefa tem-se destacado o secretário de Estado Valter Lemos. É certo que a personagem se diz e desdiz, avança e volta atrás, a maior das facilidades. Mas o caminho para onde parece querer avançar é o de uma hostilização e incompreensão sistemática da classe dos professores. Com isto prejudica o país, e prejudica o Governo, com um primeiro-ministro determinado e competente, mas que não pode estar atento a todos os pormenores. E prejudica o PS, mas não sei se isto preocupa. Vem agora dizer que o professor deve avisar previamente que vai faltar, o que no limite significa que eu prevejo com alguns dias antecedência a dor de dentes ou a crise de fígado que vou ter. E que deve dar o plano da aula que poria em prática caso estivesse em condições. Donde, as matérias são totalmente independentes de quem as ensina, basta pegar no manual, e ala que se faz tarde. Começa a tornar-se urgente uma remodelação do Governo, mas isso é tema delicado a que voltarei mais tarde.


" Por cortesia, Eduardo Prado Coelho"

Pensamento do dia

"só existem duas classes de pessoas realmente fascinantes, as que sabem absolutamente tudo e as que não sabem absolutamente nada."

Oscar Wilde

terça-feira, outubro 17, 2006

Onde as Ruas têm nome...


Travessa do Jogo do Malhão, Penha Garcia, Idanha-a-Nova
(photo taken by anabela santiago, 2006)

Pedaços de papel.....



...com D`OR

Realmente não sei ...

Não tenho certezas de nada!
talvez a morte ...mas como não sei!
trituro-me numa roda dentada
que
me corta a alma em postas de dor....
alivio-me em pequenos prazeres
do sorrir de um pequeno ser
do abraço sincero
da revolta chorosa
que só as crianças conseguem ter!
apoio-me em ancôras de amizades seguras (poucas mas firmes)
e em ti meu Amor!!!
percorro...este caminho
com dores
com sorrisos
mas certo que só o percorro uma vez!
certezas??
não as tenho!
Realmente não sei....
se vale a pena!

segunda-feira, outubro 16, 2006

Pedaços de papel...



...de Maria DINORAH

Nina-nana

— Meu bem, meu bem,
o que você tem?

— Vontade de açúcar,
na lata não tem.

— Meu bem, meu bem,
por que você chora?

— Vontade de amora,
na cesta não tem.

— Meu bem, feche os olhos,
que o sono já vem!

— O sono tem leite?
O sono tem pão?

— Filhinho, tem não.
Vai, dorme, querido.

Papai foi embora,
mamãe te quer bem!

in Panela no fogo, barriga vazia.

Tristeza. Só tristeza.



James Blunt - No Bravery

There are children standing here,
Arms outstretched into the sky,
Tears drying on their face.
He has been here.
Brothers lie in shallow graves.
Fathers lost without a trace.
A nation blind to their disgrace,
Since he's been here.

And I see no bravery,
No bravery in your eyes anymore.
Only sadness.

Houses burnt beyond repair.
The smell of death is in the air.
A woman weeping in despair says,
He has been here.
Tracer lighting up the sky.
It's another families' turn to die.
A child afraid to even cry out says,
He has been here.
And I see no bravery,
No bravery in your eyes anymore.
Only sadness.

There are children standing here,
Arms outstretched into the sky,
But no one asks the question why,
He has been here.
Old men kneel and accept their fate.
Wives and daughters cut and raped.
A generation drenched in hate.
Yes, he has been here.

And I see no bravery,
No bravery in your eyes anymore.
Only sadness.

V.M.

domingo, outubro 15, 2006

Foto do dia


pormenor de um castanheiro
(foto de alexandre osório, 2006)

sábado, outubro 14, 2006

Pedaços de papel.....



...com D`OR

Queria tanto voar...
ser infinito no céu
para a terra olhar
sem me conspurcar!

sexta-feira, outubro 13, 2006

Pedaços de papel.....



MELODIA DE AMIZADE

Pudera eu ter o dom de um poeta ou de um músico
para poder colocar em verso e melodia o sentimento de uma amizade.
Amigo ocupa mais espaço do que somente o lado esquerdo do peito.
Amigo é aquele com quem choro. É aquele com quem rio.
É aquele com quem exploro riachos e cachoeiras dentro de mim.
Amigo é um só. Não importa se tenho um ou cem.
Cada um, em cada momento, é especial... é único, é vital.
Amigo não se escolhe... Não se "pede" ninguém em amizade.
Ela existe ou não... sem tempo pré determinado... Sem prazo para iniciar.
Amizade é sentimento... é afecto... amor... respeito... veracidade...
troca... carinho... cumplicidade... é um beijo... um abraço...
Abrace um amigo hoje... mesmo que não seja o seu.
Abrace um estranho... Ele certamente é Amigo de alguém.
E você sabe o quanto ele é importante.

Vinicius de Morais

quinta-feira, outubro 12, 2006

contratempos

Estórias mundanas...

Conduziu o carro mecanicamente. Parou junto ao mar, a brisa lambia-lhe o sufoco que sentia, as lágrimas confundiam-se com as gotas vindas do mar.
Não culpava ninguém... somente ele... por ser como era.
Recordações passavam-lhe pela mente, numa velocidade aterradora... anos passavam pela sua mente em segundos!
O mar agitado despertava-lhe uma revolta imensa!
Atormentava-se... mas a vida era assim (já devia de o saber)!
Tocou o telemóvel, seu porto de abrigo chamava-o... sorriu...
E mais uma vez jurou que nunca mais...

quarta-feira, outubro 11, 2006

Pedaços de papel…



...com Ana Luar

É para ti que falo!

Quantas vezes desfaço os meus versos
Na imensidão dos meus desenganos…
Onde o sal das minhas lágrimas
Se dissolve na tristeza do esquecimento

Hoje escrevo…
Não falo…
Não digo nada.

Nem da beleza das coisas
Ou das palavras…
Nem dos sonhos inacabados…

Pois é no teu silêncio
Que me inebrio de paixão
E, afincadamente, me agarro à vida.
É para ti que falo!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Para Meditar...

1. O que Lisboa viu no dia 5 de Outubro, 96 anos depois do nascimento da República e Dia Mundial do Professor, foi a maior manifestação de sempre de docentes portugueses. Simpatize-se ou não com o processo, mais de 20 mil professores (e os números são da polícia, que não de fontes sindicais) a dizerem na rua o que lhes vai nas almas, vindos de todo o país, em dia feriado, foi esmagador. "Ditadora", "autista" e "mentirosa" foram alguns qualificativos endereçados à ministra da Educação, no calor da indignação. Se esta senhora integrasse um governo democrático e de esquerda, estaria agora a pensar. Mas uma voluntarista rudimentar como ela, que chega ao cúmulo de defender publicamente que se deve avançar mesmo que não existam condições para isso, que de Educação só vê cifras e números, mesmo sem os saber interpretar, não pensa. 2. Sendo que o carácter meramente formal da democracia em que vivemos parece não inquietar particularmente os portugueses, já o mesmo se não pode dizer quanto às clivagens que marcam hoje a nossa sociedade. Maliciosamente, políticos e gente de fluente "economês" têm-nas fomentado segundo a velha cartilha salazarenta do dividir para reinar, lançando o privado contra o público e os pais contra os professores (não se ufana a ministra de ter perdido os professores mas ter ganho os pais?). Os mais de 20 mil professores que desceram a Avenida da Liberdade não protestaram apenas contra o aviltamento e contra o roubo. Protestaram contra a sociedade que este Governo de direita liberal cega está a impor-nos, trocando pessoas por estatísticas manipuladas e números falsos, e o concreto, pungente, pelo abstracto. É fácil para os senhores que estiveram no Beato, sob a sigla "Compromisso Portugal", liquidar de uma só vez a vida de 200 mil funcionários públicos e famílias, sem que nos digam aquilo a que eles próprios se comprometem. É fácil para o governador do Banco de Portugal, confortado com o seu belo salário e protegido por uma reforma de privilégio, dizer que os salários dos funcionários públicos devem diminuir. O que é difícil é convencer os professores a andarem para trás enquanto os lucros bancários continuam por tributar, a corrupção grassa, a promiscuidade entre os interesses particulares e os do Estado persiste e os encerramentos de unidades produtivas viáveis se fazem em nome da sacrossanta economia de mercado. 3. A economia é uma caldeirada de ciências que deve ser usada para servir as pessoas, todas as pessoas, para uns. Para outros, a economia é um fim em si e falam dela como os taliban de Alá ou as beatas da Nossa Senhora de Fátima. A maneira como se olha a economia permite distinguir a esquerda da direita. A esquerda não pode governar sem pesar a consequência das suas medidas na vida da Pessoa e das pessoas. É por isso que Sócrates e servos são a direita nua de ideias no poder. Sob o estandarte da rosa murcha, vão ao próximo congresso do partido, que ainda se chama socialista, sem opositores, com um inegável apoio do sebastianismo nacional. Era bom que a indignação atirada ao vento da Avenida da Liberdade ecoasse nos ouvidos dos portugueses. A espoliação que agora toca aos professores chegará a (quase) todos, vintém após vintém. 4. A crise e o clima social que gerou seriam claramente propícios a um emendar de mão, que contaria com a solidariedade dos professores. Mas não chegámos à pré-falência senão por culpa da elite política, dos partidos que nos têm governado e dos erros que, ano após ano, foram cometendo. Era bonito e mobilizador que o reconhecessem, antes de nos ir aos bolsos e às batatas dos nossos filhos. E já que se persignam hipocritamente nas cerimónias oficiais a que presidem, em nome do Estado leigo que representam, bem podiam fazer essa contrição pública em vez de nos elegerem como malfeitores sociais. Foi contra a impossibilidade de corrigir erros de décadas num átimo e a necessidade de partilhar com os interessados as formas de o conseguir que os professores se manifestaram. Foi contra o escandaloso aumento do fosso entre ricos e pobres (segundo o INE, 10 por cento da população, os mais ricos, recebem mais que 50 por cento dessa mesma população, os mais pobres) que os professores protestaram.5. Falei acima de estatísticas manipuladas. Que bom seria alguma televisão sentar frente a frente, em contraditório público, quem tem leituras diferentes dos mesmíssimos dados estatísticos. E se ficasse claro que apenas um parceiro europeu tem menos funcionários públicos que nós, que temos a segunda mais baixa despesa com saúde da Europa, que somos quem menos gasta em educação, que o número oficial de alunos por professor é uma treta e que os professores portugueses estão bem longe de ser os melhor pagos entre os pares, etc., etc.? Por mim, iria lá deliciado, confesso, e não vetaria interlocutores como a ministra da Educação terá feito para ir ao Prós e Contras. Prometo levar notas de vencimentos dos professores de vários escalões e um belo documento assinado pelo sindicalista Jorge Pedreira, quando então defendia exactamente o contrário do que hoje diz o secretário de Estado Jorge Pedreira, sobre a mesmíssima matéria das carreiras dos docentes.

por cortesia " jornal público-Santana Castilho"

sexta-feira, outubro 06, 2006

Onde as Ruas têm nome...


Rua do Curtido de Baixo, Ílhavo
(foto alexandre osório, 2006)

terça-feira, outubro 03, 2006

Pedaços de papel...



...com Fernando Cabral Martins

Na Praia

Na praia, os corpos cruzam-se sobre fundo de pedra, entre estilhaços de mar. Fechando os olhos, ouve-se o estralejar das ondas como um festival de pirotecnia. Há mulheres que se passeiam de óculos caros, homens que manuseiam vídeos, e crianças que passam pelo meio de umas das outras. A certa altura, num grupo, um rapaz, depois outro levantam-se e correm para o mar. Uma rapariga, de ancas largas e redondas, de cabelo preto comprido, levanta-se também de cima da toalha na areia, para os seguir, mas o impulso de se levantar é tão forte que o movimento de se pôr em pé, na verdade, é um salto pequeno que a leva a flutuar a um palmo do chão.


Para Meditar...

A questão do aborto!

Aí temos, mais uma vez, a interrupção voluntária da gravidez, a tal que, passando a imagem, parece provocar febre recorrente não nas mulheres que a efectuam ou a pretendem realizar mas nalguns políticos e noutros homens de bem (?) com largo acesso aos órgãos de comunicação social.(...)
Fazem-no como se fossem eles a apresentar amenorreia de concepção e o útero grávido. Perfilam-se como proprietários do corpo da mulher ou pelo menos do útero que aumentará de volume durante 37 a 42 semanas. Esgrimem como se pudessem garantir as condições de estabilidade relacional, emocional e financeira que permitirão que a fecundação do óvulo, no terço externo da trompa, que dará origem à primeira célula do ovo, não se transformará, após um complexo percurso, num ser vivo sem o carinho de ambos os progenitores; numa futura vítima de trabalho infantil; num alvo de sevícias; numa dos milhões de crianças sem abrigo ou com o refúgio transformado num armazém de carne fresca para os pérfidos pedófilos. São aqueles os homens que, manhosamente, propõem um referendo sobre o aborto para que se pronunciem todos os eleitores. Isto numa sociedade em que, fazendo fé nas informações oficiais, há cerca de um milhão de opções homossexuais; dez a quinze por cento de casais que desventuradamente são estéreis; uma percentagem idêntica de casais inférteis em que, infelizmente, por repetição a mulher aborta ou a gravidez se conclui com nados mortos; um por cento dos casais não têm relações sexuais e mantêm-se virgens por escolha de ambos; e os divórcios traduzem muitas vezes o fim de uma mera discussão ou discórdia, ficando a mulher grávida e partindo o homem levemente para outra. Perante estes condicionalismos, a opção tem de ser ditada na esfera política e cremos que a Assembleia da República tem poderes para decidir mediante propostas adequadas. Poupe-se o Orçamento do Estado a mais esta despesa e canalize-se esse dinheiro para a Segurança Social, por exemplo. Mas se se insistir no referendo, esperemos que se deixe de filosofar sobre se a primeira célula já é um ser vivo e se passe a dar relevo à vida que os nossos olhos vêem todos os dias, a tal onde os bebés são deitados nos caixotes de lixo, abandonados nas casas de banho de restaurantes, atirados aos poços, ou deixados à beira da estrada, à porta de uma igreja... (...) Por um momento, calem-se os homens e reflictam em voz baixa ou em silêncio. Dêem voz às mulheres, deixando-as falar sobre o que sentem e sabem melhor do que ninguém. Por mim, já me calei!


Por cortesia "Jornal Público- António Lares (Opinião dos Leitores)"
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