quarta-feira, abril 25, 2007

25 DE ABRIL SEMPRE!



TANTO MAR

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

* Chico Buarque- Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975

terça-feira, abril 24, 2007

Pedaços de papel.....

com...Ferreira Gullar

Os Mortos



os mortos vêem o mundo
pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,
com nossos ouvidos,
certas sinfonias
algum bater de portas,
ventanias

Ausentes
de corpo e alma
misturam o seu ao nosso riso
se de facto
quando vivos
acharam a mesma graça

segunda-feira, abril 23, 2007

Estórias de encantar

Jerigonço era um burro que desde pequenino foi ensinado que só deveria pastar nos pastos certos. Perto do curral dele havia vários pastos mas nem todos eles eram apetitosos. Para se ter acesso aos melhores pastos tinham os burros de efectuarem provas que eram na verdade muito burros, ou mesmo, mais burros que os outros burros. Mas chegado aos melhores pastos, ainda tinha que se conseguir chegar à melhor erva. Jerigonço não se incomodou de se colar e seguir os burros mais fortese mais burros comendo mesmo a merda deles. Ele sabia que depois da merda viriam tempos de bonança e que a trampa dele seria devorada por outros burros menos burros que ele. E foi assim que um burro como o jerigonço chegou aos melhores pastos e à melhor erva, mesmo aquela que nem todos os burros têm acesso de uma forma independente.

Estórias de encantar

Ia a Rainha Santa Sócretina na direcção de uma televisão para distribuir mais umas quantas mentiras em forma medidas de propaganda, na companhia na sua fiel Aia Mariana dos Olhos Lindos, quando inesperadamente lhe surge ao caminho o Rei D. Aníbal Silva e seus dois lacaios, Tony Borges e Ferreira Leite. – Onde ides minha Rainha? – Perguntou ele com voz doce. – Meu Senhor, ia só dar uma volta com a minha aia pelos Jardins do nosso país. – Vós sabeis, Sócretina, que o reino passa por grandes dificuldades e que o povo não anda satisfeito. Não podemos andar sempre a distribuir-lhes mentiras. – Meu Senhor Aníbal, vós já me haveis avisado disso e eu nunca vos desobedeceria. – Não, minha Rainha? É que o amor que o povo vos tem mostrado nas sondagens é muito estranho. Não andareis vós a enganar-me e a distribuir mentirinhas nas minhas costas? – Não seria capaz disso, meu Senhor. – Mentiu a Sócretina. – Que lavais então ai no vosso regaço? Tudo parecia perdido. O seu regaço ia carregado de mentiras para distribuir pelo povo e só um milagre a poderia salvar. Sem saber o que fazer abriu os braços e lá de dentro, perante a surpresa de todos, caíram dezenas de diplomas. – São diplomas, meu Senhor. São diplomas da Universidade Independente.
"In Kaos the garden"

domingo, abril 22, 2007

Pedaços de papel...



... com Luís Portugal

Uma semente

Se houvesse uma semente
que eu pudesse semear
eu fazia um canteiro
no melhor do meu jardim

Protegia-o da geada
dava-lhe o sol a beijar
tratava do meu canteiro
como se fosse de mim

E se a flor tivesse as cores
e os reflexos da tua voz
se tivesse o mesmo cheiro
e o porte que já te vi

A garridez que eu teria
plantada no meu jardim
pintada na minha alma
se não te posso ter a ti

sexta-feira, abril 20, 2007

A escola sempre acontece...


Desde esta capital angolana, turbulenta, ruidosa e com “entamburamentos” de trânsito (como cá se diz), mas ao mesmo tempo com uma magia especial, deixo-vos esta fotografia prometendo mais post’s.

quarta-feira, abril 18, 2007

Para Meditar...

IRONIA num clássico conto indiano (de século XVI)

Um pescador de caranguejos nunca tapa o balde em que vai colocando os caranguejos que apanha. Isto admira toda a gente à sua volta.Alguém lhe pergunta um dia : "Porque não tapas o balde em que tens os caranguejos ? Não tens medo que fujam?"Ao que o pescador calmamente responde: "Não é preciso.. são caranguejos portugueses: quando um tenta subir, os outros imediatamente o puxam para baixo!"

Nature Museu

BURACAS DE CASMILO, Portugal

(photos taken by alexandre osório and anabela santiago, april 2007)

terça-feira, abril 17, 2007

contratempos


(photo taken by alexandre osorio, 2007)

domingo, abril 15, 2007

Para Meditar...

«Depois, houve outras coisas que ficaram por explicar ou cuja explicação não pode convencer quem sabe do que se trata. Nenhum aluno que tenha feito um curso ‘a sério’ numa Universidade ‘a sério’ teve, no ano de licenciatura, cinco cadeiras, das quais quatro dadas pelo mesmo professor; nenhum aluno se esqueceria do nome dos professores, para mais se só teve dois; nenhum aluno acreditaria que era possível ser membro do Governo e simultaneamente concluir uma licenciatura com aulas nocturnas e fazendo o ano com média de 17; nenhum aluno viu um professor dar-lhe as notas durante as férias de Agosto, e logo quatro no mesmo dia; nenhum aluno tem um certificado de curso passado durante as férias, num domingo, e assinado pelo reitor e pela filha, na qualidade de directora administrativa (típico de Universidade de vão de escada). A isto, basicamente, José Sócrates respondeu que são questões a que é alheio e cuja responsabilidade só pode ser imputada à Universidade. Mas há uma coisa a que ele não foi alheio, que foi a escolha desta Universidade para se licenciar. E, aqui, volta a questão política: eu sei que houve inspecções regulares à UnI e que em nenhuma se sugeriu o seu encerramento. Mas, por tudo o que hoje sabemos sobre o seu funcionamento, os seus responsáveis e as suas estranhas e constantes anomalias processuais (até chegaram a dizer que só guardavam os registos dos alunos durante cinco anos...), a questão está em saber, exactamente, se ela não deveria ter sido encerrada muito antes. Será que José Sócrates, primeiro-ministro, recomenda o modelo da UnI que o aluno José Sócrates conheceu como exemplo a seguir na tal estratégia de qualificação e valorização profissional que defende para o país?»
"MST in Expresso"

sexta-feira, abril 13, 2007

Pedaços de papel...


...com António Osório
Os Loucos

Há vários tipos de louco.

O hitleriano, que barafusta.
O solícito, que dirige o trânsito.
O maníaco fala-só.

O idiota que se baba,
explicado pelo psiquiatra gago.
O legatário de outros,
o que nos governa.

O depressivo que salva
o mundo. Aqueles que o destroem.

E há sempre um
(o mais intratável) que não desiste
e escreve versos.

Não gosto destes loucos.
(Torturados pela escuridão, pela morte?)
Gosto desta velha senhora
que ri, manso, pela rua, de felicidade.

in A ignorância da morte
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