segunda-feira, março 31, 2008

Pensamento do dia...

Comunicado

Na frente ocidental nada de novo.
O povo
Continua a resistir.
Sem ninguém que lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair.

in Orfeu Rebelde, Miguel Torga

quinta-feira, março 20, 2008

Chegou a Lua Cheia... e posso dizer aquelas coisas

... com João Camilo

Retrato breve de J. B.

Só gostam de mim aqueles que não me conhecem. Julgam conhecer-me e dizem: gosto de ti. Mas porque eu sei que não me conhecem, eu sei que não gostam de mim. Aquilo ou aquele de que gostam não sou eu, não terá sequer nada a ver comigo esse de que dizem gosto. Eu mesmo já disse um dia que um corpo (e entenda-se aqui corpo num sentido amplo, não num sentido puramente físico) é espaço demasiado para conhecer. Do que deverá concluir-se que nem eu me conheço. Sei de mim coisas diferentes em tempos diferentes, existo talvez de modos tão diversos que em relação a mim são despropositadas as ideias que eu mesmo de mim vou fazendo — as ideias que faço daquilo ou daquele que vive em mim e eu tentei parar mas que se esvai, me foge, talvez porque é constante mudança, talvez porque não sou verdadeiramente mais do que movimento. E sendo certo isto, como me parece que é, como poderia não ser certo que só gostam de mim aqueles que não me conhecem ou, se se prefere, que aqueles que gostam de mim não gostam verdadeiramente de mim ou, ainda, que não é de mim verdadeiramente que gostam? E não digo nem disse que gostariam de mim se me conhecessem — é possível ou improvável, muito pouco ou nada, não sei, não importa, não se pode saber.

Mais fácil será falar daqueles que não gostam de mim. Não de todos, seria absurdo, não conheço todas as pessoas que não gostam de mim e raramente mesmo nos será possível saber de todas as pessoas que andam à nossa volta quais as que nos detestam e porquê. Que vos diria por exemplo das pessoas encontradas num autocarro, à entrada do cinema, num urinol, nas igrejas, e que logo no rosto se lhes lê a antipatia que sentem por nós, por termos esta cara estes olhos esta camisa este fato cinzento ou talvez apenas porque as meias que calçamos e que ficaram visíveis quando subíamos as escadas têm as cores que eles sempre detestaram, ou com as quais naquele momento eles embirraram, ou simplesmente porque essas cores estão combinadas de uma maneira que não lhes agradou, ou ainda porque fumamos a mesma marca de cigarro que eles? Desses creio que não poderia falar-vos, disse já tudo ou quase tudo sobre eles, não saberia que mais dizer-vos ainda que o quisesse. É de outros que quero falar, e falarei segundo a minha inspiração, a minha memória, com as palavras que puder escrever. Devo porém referir que quando penso em pessoas que não gostam de mim penso especialmente naqueles que alguma vez me deram a impressão de gostar ou de vir a gostar e que depois partiram, não sem ter dito não gosto de ti, não sem dizer já gostei de ti agora não gosto — ou sim, sem dizer, partindo apenas, indo, fugindo, desaparecendo às esquinas dos corredores, para dentro dos cafés, mudando para o outro lado da rua ou baixando só os olhos. É desses que creio que vou falar-vos. Porque como possibilidades que foram de alguma coisa não deixaram nunca de interessar-me, não desapareceram nunca totalmente de mim.

quarta-feira, março 19, 2008

Adeus....Génio.....




Arthur C. Clarke, o escritor e divulgador científico que também era Sir, morreu hoje, aos 90 anos de idade, no país que escolheu para viver há mais de cinco décadas, o Sri Lanka. O nome de Clarke ficará para sempre ligado ao filme “2001: Odisseia no Espaço”, baseado no seu livro “A Sentinela”, mas também às comunicações via satélite, das quais foi grande impulsionador.O interesse de Clarke pelos temas científicos começou muito cedo. Primeiro sob a forma de dinossauros e Código Morse e mais tarde, já na faculdade, deixando-se levar pela Matemática e pela Física.Arthur C. Clarke nasceu no sudoeste de Inglaterra, em Minehead, no condado de Somerset, no dia 16 de Dezembro de 1917, ano das Aparições de Fátima e da Revolução Bolchevique. Era filho de um agricultor e cumpriu os estudos em escolas locais até que se alistou na Força Aérea Britânica, durante a II Guerra Mundial, tendo trabalhado numa área secreta: o desenvolvimento de radares. Foi durante este período que previu o futuro: afirmou que seria possível colocar satélites numa órbita geoestacionária - a pouco mais de 35 mil quilómetros de altitude a partir da superfície da Terra –, que permitiriam a comunicação em torno do globo terrestre através de sinais electrónicos.Esta sua visão de futuro acabou por se tornar realidade alguns anos mais tarde, o que transformou Clarke num guru dos tempos modernos e lhe rendeu a admiração de homens que fizeram fortuna com as telecomunicações, como Rupert Murdoch e Ted Turner.Depois da guerra, Clarke foi para Londres estudar. Matriculou-se no elitista King's College e estudou Matemática e Física, antes de decidir tornar-se escritor a tempo inteiro, na década de 1940. Um dos seus livros mais emblemáticos, “A Sentinela”, acabou por ser adaptado ao cinema, originando o clássico de culto “2001: Odisseia no Espaço”. Clarke e o realizador Stanley Kubrick partilharam uma nomeação da Academia de Hollywood para o Óscar de melhor argumento adaptado.As suas construções da realidade futurística deliciaram os amantes da ficção científica e, simultaneamente, captaram o interesse da imaginação popular. As suas descrições de naves espaciais, super-computadores e rápidos sistemas de comunicação foram devoradas por milhões de leitores em todo o mundo e homens como o famoso astronauta Buzz Aldrin contavam-se entre os seus fãs. Já na década de 1990, o programa de televisão “O Universo Misterioso de Arthur C. Clarke” – que passou na televisão portuguesa – onde tentava desmistificar, através de explicações científicas, alguns episódios considerados paranormais, tornou o rosto do autor conhecido em todo o mundo.No que respeita à sua vida privada, sabe-se que Arthur C. Clarke se refugiou no Sri Lanka em 1956, depois de um casamento fracassado, e que vivia com o seu parceiro de negócios e a sua família, fazia mergulho e jogava ténis de mesa com a juventude local.O seu estatuto de grande homem da ficção científica sofreu um abalo em 1998 após alegações de assédio sexual a menores. Clarke sempre negou as acusações e o ministro da Justiça do Sri Lanka acabou por concluir que não haveria julgamento, por falta de provas. Este episódio acabou por adiar a atribuição do título de Sir – a pedido do próprio Clark –, que só chegou a 26 de Maio de 2000. Quando comemorou 90 anos de idade, no ano passado, Arthur C. Clarke disse aos amigos: “Quero ser lembrado sobretudo como escritor. Quero entreter leitores e - espero eu – conseguir também esticar-lhes a imaginação”.Hoje, Clarke morreu em casa, na cidade de Colombo, devido a falhas respiratórias e uma paragem cardíaca.
"in público"

segunda-feira, março 17, 2008

Earth's treasures



amendoeiras em flor, março, 2008
(photos taken by a santiago)


Para Meditar....

ACABOU-SE

Mário Crespo, Jornalista
(JN, 10 de Março de 2008
)

Maria de Lurdes Rodrigues não tem condições para continuar a gerir o sistema de educação em Portugal. Porque já não é eficaz nessa função. Porque é um facto insofismável que o pessoal que ela administra não aceita a sua administração. Isso esvazia de conteúdo as suas funções. Já não está em causa a eficácia da sua política. A questão é que ela não vai conseguir implementar as boas ideias que tem, nem impor as más. O argumento de a manter no cargo para não "desautorizar" o Primeiro-ministro é falso e perigoso. Mantendo-a nas funções que desempenha a desautorização do governo de Sócrates é constante. Chegou a altura de ver que isso é mau para os alunos. Só podem ser eles quem está em causa. Não pode haver razões de defesa de imagem política que justifiquem esta intransigência porque a manutenção de um percurso de imposição administrativa começa a ser um risco de segurança nacional. É péssimo para o quotidiano escolar ter um sistema totalmente desautorizado com professores a desafiarem o governo e o governo a desautorizar-se em frémitos de afirmação de voluntarismo vazio. Da necessidade de reformas sabe-se com fundamento científico desde o trabalho de Ana Benavente que denunciou que um quarto dos portugueses mal sabia ler e que só dez por cento da população é que entendia completamente aquilo que está escrito. Mas esse estudo tem década e meia e nada de substancial foi feito no entretanto. Por isso, o que está em questão não é a avaliação de professores. Apreciações de desempenho são meros pormenores de gestão de pessoal. O que é preciso, como consta de uma lúcida reflexão dos docentes da Escola Rainha D. Amélia, é fazer a escola cumprir com as suas funções na socialização de crianças e jovens. É promover a criação de hábitos de disciplina interiorizados que se multipliquem depois na vida adulta. Entre Cavaco Silva, o governante confrontado com o estudo de Ana Benavente, e José Sócrates, este processo de calamitosa estupidificação do país não foi interrompido por um projecto lúcido. O governo actuou agora como se o problema estivesse nos docentes e não no sistema de docência e nos curricula. Actuou como se o problema único de Portugal fosse o do excesso de privilégios e não o do defeito de cultura.

E assim as frágeis construções da demagogia política trouxeram, mesmo com a intimidação de PSPs à paisana e processos disciplinares da DREN, uma centena de milhar para as ruas de Lisboa. E o Primeiro-ministro mostrou a sua fibra assistindo em silêncio ao martírio de Maria de Lurdes Rodrigues que se desdobrou nas TVs a tentar demonstrar o indemonstrável axioma socrático que a sua política é infalível e o défice de compreensão é do país. A resposta de Sócrates foi a de marcar uma manifestação de desagravo para o Porto. Primeiro era para ser na rua, depois numa praça, depois num pavilhão e vai sempre soar a falso no clamor sem fim das turbas dos indignados. Foi um contra-ataque ridículo no meio de muito comportamento bizarro. O Professor Augusto Santos Silva protagonizou o momento de infelicidade quando em Chaves quis assinalar os três anos de governação numa espécie de estágio para o anunciado comício do desagravo. Foi vaiado. Ripostou tentando conjurar os seus Manes. Invocou os nomes dos pais fundadores, dos velhos companheiros que diz serem os seus da luta que diz ser a sua. Salgado Zenha, Mário Soares e Manuel Alegre. E nenhum lhe respondeu. Tentou depois o exorcismo, amaldiçoando os seus demónios pessoais, os grandes e os mais pequenos. Álvaro Cunhal e Mário Nogueira. E nenhum lhe respondeu. Ouviu vaias cada vez mais altas e a voz embargou-se e disse: "eu não me calo...eles calam-se primeiro que eu." Depois repetiu, baixinho como que a querer convencer-se "...eles calam-se primeiro que eu". E não se calaram. Ao ouvir na Antena 1 este terrível registo de desgovernação só me ocorreram as sábias palavras de Juan Carlos para o tiranete venezuelano: "por que no te callas".

sábado, março 15, 2008

No One...

segunda-feira, março 10, 2008

Citações...

"Se a Sinistra Ministra não se demite e o Engenheiro não a demite, se a Sinistra diz que as “reformas” são para continuar e o Engenheiro diz o mesmo, então mantêm-se todas as razões para não baixar os braços e continuar a lutar. Não são operações cosméticas ou o adiar o sistema de avaliação que deve convencer os professores a baixar os braços. É importante que se coloque como objectivo a demissão de quem chama à classe profissional que tutela de “professorzecos”. Essa Ministra tem de ser demitida e se o Engenheiro se recusar a fazê-lo, então é ele que tem de ser demitido. Confesso que os meus problemas com o rumo da educação são diferentes e não se esgotam em um ou dois decretos ministeriais, ou na cara do Ministro, têm mais a ver com uma visão global da sociedade e de um mundo de terror que, paulatinamente, está ser construído sob os nossos olhos. Apoio a luta dos professores, assim como o farei com a dos pais se resolverem colocar os interesses dos seus filhos acima dos seus. Lutarei com os pais, e eu sou um, quando entenderem que tem de lutar pelo dever de acompanhar o crescimento e a educação dos seus filhos, quando entenderem que têm de exigir a esta sociedade que lhes conceda o tempo para o fazer, que não aceitem que os seus filhos sejam encerrados em escolas durante 11 horas do dia. Lutarei com os pais que não se desejam ver substituídos por um estado, cada dia menos de confiar e mais rendido aos poderes globais, na educação e na transmissão de princípios e valores da vida dos seus filhos. Que não desejam que o quarto dos seus filhos não seja só o local onde o estado armazena as crianças durante a noite. Quero e exijo tempo para estar com os meus filhos, para os ajudar a crescerem como gente inteira, gente que acredite em valores e que não seja simplesmente carne para canhão da economia e do o enriquecimento de alguns. Estou disposto a lutar junto com os professores, com os funcionários públicos, com todos os que desejem travar este caminho que seguimos. Estou certamente obrigado lutar quando vejo ameaçado o futuro dos meus filhos.É por isso fundamental que os professores não parem, que continuem a sua luta, que passem por cima dos sindicatos e não considerem que basta fazer uns lutos na escola e uma manifestação por mês. Tem de lutar todos os dias, irem aos cem ou aos mil ou quantos forem, protestar para a rua. Não recearem o sistema e quem os tente calar. Parar agora seria ganhar uma batalha mas perder a guerra. Esta guerra só pode parar com a rendição do sistema e das Sinistras figuras que o representam."
" in...wehavekaosinthegarden"

sábado, março 08, 2008

Para Meditar...

A Liberdade Passou Por Aqui....


Os professores deram hoje ao país uma bela lição de cidadania. Concordando-se, ou não , com a sua posição relativamente ás politicas da ministra, tem-se que se reconhecer que reunir dois terços de uma classe profissional tradicionalmente avessa à contestação e heterógenea em termos politicos e até sociais numa manifestação de rua é verdadeiramente notável.
Claro que vão surgir opiniões criticas a esta marcha. Vai haver quem diga que peca por tardia, outros dirão que será inconsequente por não haver estratégias de luta no futuro próximo, outros dirão ainda, que estão a ser usadas técnicas de luta do passado. Todos poderão ter um pouco de razão. Penso até que esta situação poderia ter sido evitada se os professores mais cedo tivessem reagido ás afrontas e prepotências deste ministério. Mas o que importa reter é que hoje a democracia em Portugal existiu e a liberdade passou por aqui. Hoje os politicos sentiram que o povo pode pulsar e levar figurinhas como Santos Silva a terem reacções patéticas e ridiculas (como ontem teve), ou a ver-se os lideres da oposição de forma indecorosa colaram-se a esta marcha, ou a rir-mo-nos dos pachecos pereiras, lobos xavieres e jorges coelhos e etc que pensavam ser os "lideres" da cidadania em Portugal, atarantados por sentirem e verem massa critica de anónimos cidadãos. Hoje em Portugal houveram pessoas que se acham injustiçadas e vieram á capital dizer: estamos aqui, somos cidadãos e não concordamos com o que nos estão a fazer....a liberdade passou por aqui....

Pensamento do dia

"Em democracia, quando se vai para a "rua", local nobre e legítimo do protesto, tem que se saber que não se pode continuar nela sob pena de então as coisas estarem muito mal para a democracia. Duvido que nesta luta dos professores exista um plano B. O plano A resultou, está à vista hoje. Podia haver um plano B para 2009, no voto, mas duvido que quando lá se chegar exista uma alternativa no domínio político para o materializar. Por isso temo que disto tudo resulte pouco mais do que desespero apático, ou asneira agressiva. Vamos ver."

por cortesia, josé pacheco pereira

quarta-feira, março 05, 2008

Pedaços de papel...



... com arsélio martins

as linhas
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quando desenhas as linhas
do meu desgosto

sei que a manhã desperta
as minhas mãos no teu rosto


se na minha face rugosa alinhas
os dedos do carvão que se desfaz
ao vento da janela aberta


chego de asas caídas onde tu já nem estás
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