quinta-feira, maio 31, 2007
A greve ficou muito aquém das expectativas dos seus organizadores. Várias causas se podem atribuir: medo, falta de cidadania, desencanto, indiferença etc. Os sindicatos, nomeadamente a CGTP deveriam fazer uma introspecção das razões do afastamento dos trabalhadores (termo que lhe é tão caro). A colagem da CGTP ao PCP, tornado-a numa correia de transmissão e partidarizando a indignação e a revolta torna-se contraproducente. Hoje em pleno sec XXI, a realidade social é outra, as convicções, os ideais vão morrendo triturados por um neo-liberalismo que engole tudo e todos. Devem os cidadãos acomodarem-se? Não! devem sim tentarem organizar-se...tarefa dificil numa época em que o desemprego aumenta e o emprego precário dispara. O desafio é enorme,os partidos têm de se sentir ameaçados pelos cidadãos, os sindicatos têm de se adaptar aos novos tempo. As convicções não podem morrer.
António Aniceto Monteiro (1907-1980) foi um dos maiores matemáticos portugueses – e ao mesmo tempo, um dos menos conhecidos por cá. Forçado ao exílio pelo regime salazarista, viveu quase toda sua vida profissional no Brasil e na Argentina, contribuindo de forma extraordinária para o desenvolvimento da matemática naqueles países. Faria amanhã 100 anos.
Em Fevereiro de 1945, aos quase 38 anos de idade, António Aniceto Monteiro embarca em Lisboa com destino ao Rio de Janeiro – e ao exílio que marcará o resto da sua vida. No Brasil, espera-o um cargo de professor na Faculdade Nacional de Filosofia, para o qual este ainda jovem mas já destacado matemático – nascido em Angola, licenciado da Faculdade de Ciências de Lisboa e doutorado da Sorbonne – foi recomendado por nada mais nem nada menos do que Albert Einstein, John von Neumann e Guido Beck.Monteiro abandona Portugal porque a entrada na carreira científica lhe foi vedada pelo regime de Salazar devido às suas convicções políticas. Desde 1938, de facto, tem estado a trabalhar sem ser remunerado por aquilo que faz. Em 1943, escreveu no seu currículo: “durante o período de 1938-43, todas as minhas funções docentes e de investigação foram desempenhadas sem remuneração; ganhei a vida dando lições particulares e trabalhando num Serviço de Inventariação de Bibliografia Científica existente em Portugal”.Isso não tem impedido Monteiro de desenvolver, ao longo dos anos, uma intensa actividade científica e docente na área da matemática pura, algo de quase inédito no país. Alguns exemplos: em1936, funda com outros eminentes matemáticos o Núcleo de Matemática, Física e Química; em 1937, a revista Portugaliae Mathematica; em 1940, é co-fundador, com Bento de Jesus Caraça e Ruy Luís Gomes, da revista Gazeta de Matemática e, no mesmo ano, da Sociedade Portuguesa de Matemática, da qual se torna o primeiro secretário-geral; em 1941, contribui decisivamente para a fundação do Centro de Estudos Matemáticos do Porto. “Ele fundou tudo quanto havia a fundar, participou em tudo quanto havia para participar”, dizia há poucos dias, numa entrevista ao Jornal da Voz do Operário, o matemático Jorge Rezende.Só que, em 1943, a situação tornou-se insustentável, obrigando Monteiro e sua família a partir. Diz ainda Resende na mesma entrevista: “[...] o Governo exigia que as pessoas assinassem um compromisso de fidelidade à Constituição de 1933 e assumissem não seguir os ideais comunistas. Ora, acontece que António Monteiro recusou assinar. Por via disso nunca leccionou em Portugal. [...] houve até antigos companheiros do Colégio Militar que o tentaram convencer a assinar o compromisso, mas ele disse que fazê-lo era um ‘insulto à sua inteligência’”.No Brasil, onde permaneceu quatro anos, Monteiro continuou incansavelmente a fazer o que tão bem sabia fazer e mais gostava: investigação em matemática (lógica, análise, topologia, álgebra), organizar o ensino e promover a investigação na área junto dos jovens universitários. “Monteiro esteve no Brasil até 1949”, escreve Circe Mary Silva da Silva, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória (Brasil), “e durante este tempo marcou sua presença com atividades importantes, influenciando um grande número de futuros matemáticos no Brasil”.Em 1949, a história repete-se: é o exílio dentro do exílio. Devido a pressões exercidas pela embaixada de Portugal no Rio, o contrato académico de Monteiro não é renovado. Mais uma vez, vê-se forçado a partir – desta vez para a Argentina. Primeiro, trabalha na Universidade de Cuyo (com sedes em várias cidades do norte do país), onde co-funda o Departamento de Investigações Científicas – “e dentro dele, o Instituto de Matemática, sob a direcção de Misha Cotlard [eminente matemático russo radicado na Argentina]”, escreve o matemático argentino Edgardo Luis Fernández Stacco num texto publicado no blogue oficial do centenário de Monteiro (http://antonioanicetomonteiro.blogspot.com). E acrescenta: “Este talvez tenha sido o centro matemático mais importante do país naquela altura.” Dum exílio ao outroEm 1957, Monteiro acaba por se fixar definitivamente na Universidade do Sul, em Bahia Blanca, com a tarefa de organizar os estudos de Matemática daquela instituição. Aí, um dos seus grandes objectivos será a criação de uma biblioteca de matemática de nível internacional para a investigação em matemática. A biblioteca, que hoje tem o seu nome, continua a ser uma das melhores da América Latina. Fernández Stacco recorda que, em 1958, Monteiro estava a dar uma aula quando chegou um camião com o primeiro carregamento de livros e revistas: “A aula foi suspensa; era a primeira vez que víamos revistas de matemática”. Em 1970, através de um sistema de intercâmbio entre revistas estrangeiras e publicações locais criadas por Monteiro, a biblioteca possuía as colecções de 453 publicações especializadas. Monteiro era um autêntico “agregador” de matemáticos: ao longo dos anos, visitaram o seu instituto em Bahía Blanca um grande número de conhecidos matemáticos estrangeiros, alguns dos quais lá ficaram definitivamente. Entre eles, o seu amigo de longa data Ruy Luís Gomes.Mas a ironia da História quis que Monteiro sofresse mais uma vez o exílio, numa manifestação mais local mas não menos dolorosa: em 1975, invocando as medidas anti-terroristas que estavam a ser tomadas pela ditadura argentina contra “a subversão”, o reitor ali colocado pelos militares proibiu a Monteiro, já reformado mas ainda em actividade, a entrada na Universidade e na própria biblioteca que ele tinha criado. O matemático Eduardo L. Ortiz, do Imperial College de Londres, que visitou Monteiro em Bahia Blanca, em 1980 (pouco tempo antes da sua morte), perguntou-lhe como é que se sentia em relação a essa situação. “Causa-me alguns problemas”, foi a resposta lacónica de Monteiro.Monteiro passou dois anos em Portugal após o 25 de Abril, entre 1977 e 1979, a convite do INIC (Instituto Nacional de Investigação Científica) em Lisboa, num cargo especialmente criado para ele. A sua actividade, apesar da sua saúde ser já frágil, não pôde deixar de ser marcante. Continuou a trabalhar nas suas próprias pesquisas, mas também a orientar jovens matemáticos. Duas teses de doutoramento foram o resultado desse esforço, que lhe valeu ainda o Prémio da Gulbenkian de Ciência e Tecnologia (em 1978). Em 1980, regressou a Bahia Blanca, onde morreu a 29 de Outubro.Abaixo o fascismo!Apesar da energia e paixão que sempre demonstrou, a nostalgia e a tristeza do exílio nunca o abandonaram. A prova disso: quando de uma viagem sabática pela Europa, em 1969-70, Monteiro evitou cuidadosamente passar por Lisboa. Numa carta enviada a 10 de julho de 1970 a Maria Laura Mousinho Leite Lopes, uma sua ex-aluna, escreveu: “Volto para a Argentina sem ir a Portugal. [...] Tive o cuidado de escolher um barco que não pára em Portugal. Ao sair de Vigo talvez veja a costa de Portugal de longe! O fascismo continua em Portugal devido ao apoio inglês e yanque. Assim são as democracias ocidentais e cristãs! A palavra de ordem ‘abaixo o fascismo’ não perdeu actualidade desde a década de 30, inclusive em França”.Nessa mesma viagem, quando da sua passagem por Paris, Monteiro estava a jantar num restaurante com amigos argentinos quando estes receberam a notícia de que o ditador Juán-Carlos Onganía, que governava em Buenos Aires desde 1966, tinha sido derrubado. Perante a alegria deles, Monteiro confessou o quanto teria gostado de ter recebido a mesma notícia sobre Salazar (já doente, e que morreria semanas depois).Mesmo depois da Revolução de Abril, Monteiro nunca se reconciliaria totalmente com a sua Universidade, disse-nos ontem, em conversa telefónica desde a Argentina, o seu filho Luíz, também ele matemático. Numa carta enviada a 5 de Junho de 1978 ao matemático Alfredo Pereira Lopes, na altura em Paris, Monteiro fala dessa sua desilusão: “[...] ainda não fiz as conferências na Faculdade de Ciências de Lisboa, que propus no mês de Outubro; pela simples razão de que não as marcaram”, escreve. “Não há interesse ou não querem. Paciência. Não volto a insistir que já me dá vergonha. Darei este mês uma série de conferências na Faculdade de Ciências do Porto. A de Lisboa parece que não mudou muito com o tempo.”Agradecer a SalazarO filósofo e físico argentino Mario Bunge resumiu da seguinte forma a personagem de Monteiro, numa conferência em Bahía Blanca em Dezembro de 1996: “Esse grande homem e matemático, cuja primeira preocupação ao pisar solo argentino foi a de criar uma escola”. E acrescentou com ironia: “Temos de agradecer ao ditador Salazar que fez a vida impossível ao Professor António Monteiro, porque assim ele veio para a Argentina.”De regresso a Bahía Blanca, Monteiro terá encarado ainda a possibilidade de regressar a Lisboa. Numa outra carta a Pereira Lopes, a 31 de Maio de 1979, após um período de doença, lá estava ele outra vez a trabalhar com grande entusiasmo: “Comecei de novo a levantar-me às 4 ou 5 da manhã para trabalhar. São tão lindos os temas sobre os quais estou trabalhando, que não quero perder tempo.”Mas numa das suas últimas cartas a Ortiz após o seu regresso, confiava, a propósito da sua vida: “Assim é a vida, caro Ortiz. Desgastamo-nos em tarefas que nunca acabam, mas apesar disso iniciamo-las com entusiasmo e dedicação, porque as esperanças e certezas nunca se perdem”. E num tom mais nostálgico: “Tristezas de Bahía Blanca! Nas margens do Napostá; entre os ventos e tormentas em que a terra nos afoga, vejo Lisboa distante – recordações da minha infância!”O seu centenário vai ser comemorado em simultâneo em Lisboa e Bahía Blanca, a partir de amanhã (informações em www.spm.pt).
Em Fevereiro de 1945, aos quase 38 anos de idade, António Aniceto Monteiro embarca em Lisboa com destino ao Rio de Janeiro – e ao exílio que marcará o resto da sua vida. No Brasil, espera-o um cargo de professor na Faculdade Nacional de Filosofia, para o qual este ainda jovem mas já destacado matemático – nascido em Angola, licenciado da Faculdade de Ciências de Lisboa e doutorado da Sorbonne – foi recomendado por nada mais nem nada menos do que Albert Einstein, John von Neumann e Guido Beck.Monteiro abandona Portugal porque a entrada na carreira científica lhe foi vedada pelo regime de Salazar devido às suas convicções políticas. Desde 1938, de facto, tem estado a trabalhar sem ser remunerado por aquilo que faz. Em 1943, escreveu no seu currículo: “durante o período de 1938-43, todas as minhas funções docentes e de investigação foram desempenhadas sem remuneração; ganhei a vida dando lições particulares e trabalhando num Serviço de Inventariação de Bibliografia Científica existente em Portugal”.Isso não tem impedido Monteiro de desenvolver, ao longo dos anos, uma intensa actividade científica e docente na área da matemática pura, algo de quase inédito no país. Alguns exemplos: em1936, funda com outros eminentes matemáticos o Núcleo de Matemática, Física e Química; em 1937, a revista Portugaliae Mathematica; em 1940, é co-fundador, com Bento de Jesus Caraça e Ruy Luís Gomes, da revista Gazeta de Matemática e, no mesmo ano, da Sociedade Portuguesa de Matemática, da qual se torna o primeiro secretário-geral; em 1941, contribui decisivamente para a fundação do Centro de Estudos Matemáticos do Porto. “Ele fundou tudo quanto havia a fundar, participou em tudo quanto havia para participar”, dizia há poucos dias, numa entrevista ao Jornal da Voz do Operário, o matemático Jorge Rezende.Só que, em 1943, a situação tornou-se insustentável, obrigando Monteiro e sua família a partir. Diz ainda Resende na mesma entrevista: “[...] o Governo exigia que as pessoas assinassem um compromisso de fidelidade à Constituição de 1933 e assumissem não seguir os ideais comunistas. Ora, acontece que António Monteiro recusou assinar. Por via disso nunca leccionou em Portugal. [...] houve até antigos companheiros do Colégio Militar que o tentaram convencer a assinar o compromisso, mas ele disse que fazê-lo era um ‘insulto à sua inteligência’”.No Brasil, onde permaneceu quatro anos, Monteiro continuou incansavelmente a fazer o que tão bem sabia fazer e mais gostava: investigação em matemática (lógica, análise, topologia, álgebra), organizar o ensino e promover a investigação na área junto dos jovens universitários. “Monteiro esteve no Brasil até 1949”, escreve Circe Mary Silva da Silva, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória (Brasil), “e durante este tempo marcou sua presença com atividades importantes, influenciando um grande número de futuros matemáticos no Brasil”.Em 1949, a história repete-se: é o exílio dentro do exílio. Devido a pressões exercidas pela embaixada de Portugal no Rio, o contrato académico de Monteiro não é renovado. Mais uma vez, vê-se forçado a partir – desta vez para a Argentina. Primeiro, trabalha na Universidade de Cuyo (com sedes em várias cidades do norte do país), onde co-funda o Departamento de Investigações Científicas – “e dentro dele, o Instituto de Matemática, sob a direcção de Misha Cotlard [eminente matemático russo radicado na Argentina]”, escreve o matemático argentino Edgardo Luis Fernández Stacco num texto publicado no blogue oficial do centenário de Monteiro (http://antonioanicetomonteiro.blogspot.com). E acrescenta: “Este talvez tenha sido o centro matemático mais importante do país naquela altura.” Dum exílio ao outroEm 1957, Monteiro acaba por se fixar definitivamente na Universidade do Sul, em Bahia Blanca, com a tarefa de organizar os estudos de Matemática daquela instituição. Aí, um dos seus grandes objectivos será a criação de uma biblioteca de matemática de nível internacional para a investigação em matemática. A biblioteca, que hoje tem o seu nome, continua a ser uma das melhores da América Latina. Fernández Stacco recorda que, em 1958, Monteiro estava a dar uma aula quando chegou um camião com o primeiro carregamento de livros e revistas: “A aula foi suspensa; era a primeira vez que víamos revistas de matemática”. Em 1970, através de um sistema de intercâmbio entre revistas estrangeiras e publicações locais criadas por Monteiro, a biblioteca possuía as colecções de 453 publicações especializadas. Monteiro era um autêntico “agregador” de matemáticos: ao longo dos anos, visitaram o seu instituto em Bahía Blanca um grande número de conhecidos matemáticos estrangeiros, alguns dos quais lá ficaram definitivamente. Entre eles, o seu amigo de longa data Ruy Luís Gomes.Mas a ironia da História quis que Monteiro sofresse mais uma vez o exílio, numa manifestação mais local mas não menos dolorosa: em 1975, invocando as medidas anti-terroristas que estavam a ser tomadas pela ditadura argentina contra “a subversão”, o reitor ali colocado pelos militares proibiu a Monteiro, já reformado mas ainda em actividade, a entrada na Universidade e na própria biblioteca que ele tinha criado. O matemático Eduardo L. Ortiz, do Imperial College de Londres, que visitou Monteiro em Bahia Blanca, em 1980 (pouco tempo antes da sua morte), perguntou-lhe como é que se sentia em relação a essa situação. “Causa-me alguns problemas”, foi a resposta lacónica de Monteiro.Monteiro passou dois anos em Portugal após o 25 de Abril, entre 1977 e 1979, a convite do INIC (Instituto Nacional de Investigação Científica) em Lisboa, num cargo especialmente criado para ele. A sua actividade, apesar da sua saúde ser já frágil, não pôde deixar de ser marcante. Continuou a trabalhar nas suas próprias pesquisas, mas também a orientar jovens matemáticos. Duas teses de doutoramento foram o resultado desse esforço, que lhe valeu ainda o Prémio da Gulbenkian de Ciência e Tecnologia (em 1978). Em 1980, regressou a Bahia Blanca, onde morreu a 29 de Outubro.Abaixo o fascismo!Apesar da energia e paixão que sempre demonstrou, a nostalgia e a tristeza do exílio nunca o abandonaram. A prova disso: quando de uma viagem sabática pela Europa, em 1969-70, Monteiro evitou cuidadosamente passar por Lisboa. Numa carta enviada a 10 de julho de 1970 a Maria Laura Mousinho Leite Lopes, uma sua ex-aluna, escreveu: “Volto para a Argentina sem ir a Portugal. [...] Tive o cuidado de escolher um barco que não pára em Portugal. Ao sair de Vigo talvez veja a costa de Portugal de longe! O fascismo continua em Portugal devido ao apoio inglês e yanque. Assim são as democracias ocidentais e cristãs! A palavra de ordem ‘abaixo o fascismo’ não perdeu actualidade desde a década de 30, inclusive em França”.Nessa mesma viagem, quando da sua passagem por Paris, Monteiro estava a jantar num restaurante com amigos argentinos quando estes receberam a notícia de que o ditador Juán-Carlos Onganía, que governava em Buenos Aires desde 1966, tinha sido derrubado. Perante a alegria deles, Monteiro confessou o quanto teria gostado de ter recebido a mesma notícia sobre Salazar (já doente, e que morreria semanas depois).Mesmo depois da Revolução de Abril, Monteiro nunca se reconciliaria totalmente com a sua Universidade, disse-nos ontem, em conversa telefónica desde a Argentina, o seu filho Luíz, também ele matemático. Numa carta enviada a 5 de Junho de 1978 ao matemático Alfredo Pereira Lopes, na altura em Paris, Monteiro fala dessa sua desilusão: “[...] ainda não fiz as conferências na Faculdade de Ciências de Lisboa, que propus no mês de Outubro; pela simples razão de que não as marcaram”, escreve. “Não há interesse ou não querem. Paciência. Não volto a insistir que já me dá vergonha. Darei este mês uma série de conferências na Faculdade de Ciências do Porto. A de Lisboa parece que não mudou muito com o tempo.”Agradecer a SalazarO filósofo e físico argentino Mario Bunge resumiu da seguinte forma a personagem de Monteiro, numa conferência em Bahía Blanca em Dezembro de 1996: “Esse grande homem e matemático, cuja primeira preocupação ao pisar solo argentino foi a de criar uma escola”. E acrescentou com ironia: “Temos de agradecer ao ditador Salazar que fez a vida impossível ao Professor António Monteiro, porque assim ele veio para a Argentina.”De regresso a Bahía Blanca, Monteiro terá encarado ainda a possibilidade de regressar a Lisboa. Numa outra carta a Pereira Lopes, a 31 de Maio de 1979, após um período de doença, lá estava ele outra vez a trabalhar com grande entusiasmo: “Comecei de novo a levantar-me às 4 ou 5 da manhã para trabalhar. São tão lindos os temas sobre os quais estou trabalhando, que não quero perder tempo.”Mas numa das suas últimas cartas a Ortiz após o seu regresso, confiava, a propósito da sua vida: “Assim é a vida, caro Ortiz. Desgastamo-nos em tarefas que nunca acabam, mas apesar disso iniciamo-las com entusiasmo e dedicação, porque as esperanças e certezas nunca se perdem”. E num tom mais nostálgico: “Tristezas de Bahía Blanca! Nas margens do Napostá; entre os ventos e tormentas em que a terra nos afoga, vejo Lisboa distante – recordações da minha infância!”O seu centenário vai ser comemorado em simultâneo em Lisboa e Bahía Blanca, a partir de amanhã (informações em www.spm.pt).
"in publico"
quarta-feira, maio 30, 2007
terça-feira, maio 29, 2007
segunda-feira, maio 28, 2007
Subscrevo...
O Correio da manhã, jornal sério e nada voltado para o sensacionalismo e para o boato, como todos sabemos, tem hoje um artigo sobre as reacções da blogosfera às afirmações do Ministro Mário Lino sobre o deserto para lá do Tejo. Fez uma busca por ‘Mário Lino blogs’ e concluiu que as referências aumentaram para 490 mil. Fala da “explosão de criatividade” e acaba o artigo da seguinte forma: “Seja em forma de texto, imagem ou vídeo, todos são livres de trazer a público o seu ponto de vista. O anonimato e a falta de uma legislação na blogosfera permite aos usuários dizerem tudo o que lhes apetece”. E assina, Márcia BajoucoCara Márcia:Não é a falta de legislação, já que ela é idêntica à de qualquer outro escrito em qualquer outro local, que nos permite dizer aquilo que nos apetece. É verdade que há muitos blogs que são anónimos, mas também há muitos que o não são e que fazem o mesmo (o meu por exemplo, se perder dois minutos rapidamente descobre quem sou, só tem de procurar). O que acontece é que há por aí muita gente cansada daquilo que se passa neste país e neste sistema em que vivemos. Há muita gente cansada de ver os órgãos de informação a desinformar, a esconder, a não serem suficientemente verdadeiros e corajosos. Há por aí muita gente que acredita na liberdade de dizer aquilo que pensa. A grande diferença entre aquilo que aparece escrito num blog ou numa notícia de jornal, é que aqui não fazemos notícias, mas sim mostramos a visão de cada um de nós sobre aquilo que vemos acontecer. Eu não digo que o Mário Lino é um camelo, digo sim, que para mim se comporta como tal. Para dizer isto não necessito de me esconder por detrás de nada. Sou eu que penso assim e esse é um direito que é meu. Quem não desejar saber a minha opinião, imaginar que se pode sentir ofendido por aquilo que penso, é simples, não a venha cá ler.Deixe lá os blogs em paz, e não suspire por uma “legislação na blogosfera”. Nós, as gentes dos blogs, sabemos bem aquilo em que acreditamos e temos muito orgulho e satisfação na liberdade que queremos e defendemos.
Já agora deixo aqui o comentário do JCosta sobre a noticia publicada:"Como o dito não é anónimo e nem lhe falta legislação, está-se mesmo a ver,não diz tudo o que lhe apetece. Por mim subscrevo qualquer coisa para que o pessoal do 'correio' possa ir onde entender
Já agora deixo aqui o comentário do JCosta sobre a noticia publicada:"Como o dito não é anónimo e nem lhe falta legislação, está-se mesmo a ver,não diz tudo o que lhe apetece. Por mim subscrevo qualquer coisa para que o pessoal do 'correio' possa ir onde entender
"in wehavekaosinthegarden"
sábado, maio 26, 2007
Para Meditar...
A hipocrisia da ministra da Educação
Para proteger a dirigente do seu ministério que decidiu chamar a si competências que deixaram de ser exercidas desde que se pôs fim à Legião Portuguesa, a PIDE e a sua legião de bufos, a ministra da Educação escudou-se atrás do argumento que esperava pelo resultado do processo disciplinar. Como a ministra nada tem de idiota, ainda que às vezes pareça, sabe muito bem que o processo disciplinar visa apurar o que o professor disse e que nos termos do Estatuto Disciplinar tudo o que seja dizer mais do que bom dia pode dar lugar a uma pena. A ministra sabe muito bem que um processo disciplinar não tem nada de independente e nem sequer exige que o instrutor tenha formação em direito, nem sequer uma licenciatura tirada aos domingos no pátio da Independente. O instrutor é nomeado por uma chefia tão disponível para proteger Sócrates como a directora que decidiu colocar o seu espírito maternal ao serviço da protecção do seu menino primeiro-ministro, a decisão final é administrativa, aliás, no caso de algumas penas, é mesmo da competência da ministra. Isto é, a ministra escuda-se atrás de um processo disciplinar que ela própria vai decidir.
Mas o processo disciplinar não vai avaliar o comportamento da senhora directora regional e a perseguição política é numa democracia uma falta bem mais grave do que uma graçola envolvendo um primeiro-ministro, aliás, a maior gargalhada dada neste país sobre o mesmo assunto foi provocada por um ministro, idiota, mas ministro. Isto é, ao dizer que aguarda pelo processo disciplinar a ministra não averigua o comportamento da directora regional, em suma, avalia o seu comportamento.
A isto chama-se hipocrisia e como estou a escrever fora das horas de serviço permito-me chamar hipócrita à ministra da Educação. Deus nos livre da democracia portuguesa ficar entregue a gente desta, despida de valores e de cultura democrática.
"In Jumento"
Pedaços de papel...
... com Jorge Palma
O meu amor tem lábios de silêncio
E mãos de bailarina
E voa como o vento
E abraça-me onde a solidão termina
O meu amor tem trinta mil cavalos
A galopar no peito
E um sorriso só dela
Que nasce quando a seu lado eu me deito
O meu amor ensinou-me a chegar
Sedento de ternura
Sarou as minhas feridas
E pôs-me a salvo para além da loucura.
O meu amor ensinou-me a partir
Nalguma noite triste
Mas antes, ensinou-me
A não esquecer que o meu amor existe.
in Dá-me Lume
terça-feira, maio 22, 2007
Pensamento do dia
"Para quem nasceu na década de 80, é muito mais difícil 'chegar' onde 'chegaram' o pai e a mãe e muito mais provável 'ficar pior', e 'bastante pior', do que 'ficaram' o pai ou a mãe".
Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 19-5-2007
Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 19-5-2007
sábado, maio 19, 2007
Para Meditar...
Esta noticia chocou-me, que sociedade estamos a construír? Que mundo nos espera??
"O Miguel ainda não foi às aulas este período. Há um somatório de episódios a atormentar a sua memória. Chamam-lhe "surdo", por ter perdido parte da audição com os tratamentos. Chamam-lhe "porco", por não usar o balneário. Um dia, um dos rapazes apanhou-o no corredor e "obrigou" outro a puxar-lhe as calças, enquanto lhe chamava "aquilo que é o contrário de gostar de mulheres". Já lhe aconteceu encontrar a mochila "cheia de ranho"...
É um miúdo de 12 anos, magro, delicado, com uma voz infantil. A pedopsiquiatra remeteu uma declaração para a escola em Março. A lembrar que Miguel sofreu um cancro, vários internamentos, quimio e radioterapia. A lembrar que, por isso, apresenta sequelas diversas - debilidade física, fragilidade emocional, dificuldade de reacção a pressões psicológicas. A lembrar que é vítima de bullying (intimidação continuada). A dar conta de um "processo depressivo". A recomendar mudança de turma e urgente "intervenção clínica do Gabinete de Psicologia da escola, no sentido de ajustar os comportamentos dos jovens implicados". Mas a mudança, formalizada pelos pais desde o início do ano lectivo, não chega. De que lhe serve mudar de turma se o recreio é o mesmo? "Se eles me tentassem fazer alguma coisa nos intervalos, tinha a outra turma para me proteger", responde, num tom de voz que é quase um murmúrio o aluno do 7.º ano da Escola Básica 2,3 n.º 2 de Rio Tinto. Presume que a outra turma poderia ser preparada para o acolher no seu seio como um igual.Lizete Cardoso e o marido esforçaram-se. Semana após semana, deslocaram-se à escola para sensibilizar a directora de turma. "Até lhe oferecemos o livro A Sala de Aula sem Bullying, de Allan L. Beane, com propostas de trabalho." "Imensas vezes" pediram-lhe, e à presidente do conselho executivo (CE), para mudar o seu filho de turma. Assustaram-se quando a pedopsiquiatra falou em "risco de agravamento do quadro clínico, com eventuais passagens ao acto em termos de auto-agressividade". Findas as férias da Páscoa, decidiram não arriscar. Preferem não levar o filho às aulas a vê-lo definhar. Recorreram à Inspecção-Geral da Educação (IGE). Agostinho Santa, coordenador da área de provedoria, enviou, a 23 de Abril, uma carta ao CE a salientar que "interessa, sobretudo, atender aos direitos pessoais e educativos" do menor. A recomendar, de forma explícita, a resolução do problema, "ainda que para tal seja necessária a tomada de decisões com carácter de excepcionalidade". Ironia: a escola tem um CE interino desde 24 de Abril. O presidente interino, Laureano Valente, não responde pela antecessora, que até ali tomara conta do caso. Considera que "a mudança de turma, no momento actual, é um cenário a excluir, por razões de ordem pedagógica". A mudança dever-se-á fazer no início do próximo ano lectivo, com cuidado, para que nada se repita. Miguel não tem tido uma relação fácil com o sistema educativo. No 1.º ciclo, passou dois anos isolado por força dos tratamentos. No regresso às aulas, no 4.º ano, tinha de comer qualquer coisa às 9h00 e de tomar um fortificante no intervalo. "A professora levou-me ao CE, disse que o meu filho perturbava as aulas por comer uma bolachinha", indigna-se a mãe. No 5.º ano, a turma transplantou-se quase toda para a EB 2,3. Miguel não se sentia acarinhado, mas também não se sentia agredido. "Não falavam comigo, não brincavam. Só isso." No último período do 6.º ano, escutou os primeiros insultos. Nos corredores, no recreio. Quando "ninguém estava a ouvir". No início, eram apenas três miúdas bem conhecedoras da sua história clínica. Para se proteger, Miguel deixou de sair da sala de aula nos intervalos. O professor avisou os pais. Eles sugeriram logo uma mudança de turma, mas o professor desaconselhou tal acto. Era uma turma "muito competitiva", era "bom para ele" estar ali. As férias grandes passaram e Miguel regressou às aulas. Como os rostos hostis eram os mesmos, permanecia longe do recreio. A professora tê-lo-á tentado forçar a sair e ele terá batido o pé, argumentando que tinha os seus "direitos de criança", que não o podiam obrigar. Os pais perceberam que "estava em pânico". Inquietaram-se. Correram a pedir a tal mudança de turma. Os insultos repetiam-se. Miguel era aluno de 3 e 4 valores. Este ano, inaugurou-se nas negativas. Duas no primeiro período, três no segundo.Talvez um miúdo saudável aguentasse. Talvez os outros pais achem os de Miguel "maluquinhos" ou "chatos" por insistirem tanto na mesma tecla. E isso que importa a Lizete e ao marido? O filho "já sofreu muito, já mostrou ser um grande lutador. Agora, está bem, mas nunca se sabe". Tinha sete anos quando lhe foi diagnosticado um cancro no sistema nervoso central. "A vida é uma coisa para curtir", diz.
É um miúdo de 12 anos, magro, delicado, com uma voz infantil. A pedopsiquiatra remeteu uma declaração para a escola em Março. A lembrar que Miguel sofreu um cancro, vários internamentos, quimio e radioterapia. A lembrar que, por isso, apresenta sequelas diversas - debilidade física, fragilidade emocional, dificuldade de reacção a pressões psicológicas. A lembrar que é vítima de bullying (intimidação continuada). A dar conta de um "processo depressivo". A recomendar mudança de turma e urgente "intervenção clínica do Gabinete de Psicologia da escola, no sentido de ajustar os comportamentos dos jovens implicados". Mas a mudança, formalizada pelos pais desde o início do ano lectivo, não chega. De que lhe serve mudar de turma se o recreio é o mesmo? "Se eles me tentassem fazer alguma coisa nos intervalos, tinha a outra turma para me proteger", responde, num tom de voz que é quase um murmúrio o aluno do 7.º ano da Escola Básica 2,3 n.º 2 de Rio Tinto. Presume que a outra turma poderia ser preparada para o acolher no seu seio como um igual.Lizete Cardoso e o marido esforçaram-se. Semana após semana, deslocaram-se à escola para sensibilizar a directora de turma. "Até lhe oferecemos o livro A Sala de Aula sem Bullying, de Allan L. Beane, com propostas de trabalho." "Imensas vezes" pediram-lhe, e à presidente do conselho executivo (CE), para mudar o seu filho de turma. Assustaram-se quando a pedopsiquiatra falou em "risco de agravamento do quadro clínico, com eventuais passagens ao acto em termos de auto-agressividade". Findas as férias da Páscoa, decidiram não arriscar. Preferem não levar o filho às aulas a vê-lo definhar. Recorreram à Inspecção-Geral da Educação (IGE). Agostinho Santa, coordenador da área de provedoria, enviou, a 23 de Abril, uma carta ao CE a salientar que "interessa, sobretudo, atender aos direitos pessoais e educativos" do menor. A recomendar, de forma explícita, a resolução do problema, "ainda que para tal seja necessária a tomada de decisões com carácter de excepcionalidade". Ironia: a escola tem um CE interino desde 24 de Abril. O presidente interino, Laureano Valente, não responde pela antecessora, que até ali tomara conta do caso. Considera que "a mudança de turma, no momento actual, é um cenário a excluir, por razões de ordem pedagógica". A mudança dever-se-á fazer no início do próximo ano lectivo, com cuidado, para que nada se repita. Miguel não tem tido uma relação fácil com o sistema educativo. No 1.º ciclo, passou dois anos isolado por força dos tratamentos. No regresso às aulas, no 4.º ano, tinha de comer qualquer coisa às 9h00 e de tomar um fortificante no intervalo. "A professora levou-me ao CE, disse que o meu filho perturbava as aulas por comer uma bolachinha", indigna-se a mãe. No 5.º ano, a turma transplantou-se quase toda para a EB 2,3. Miguel não se sentia acarinhado, mas também não se sentia agredido. "Não falavam comigo, não brincavam. Só isso." No último período do 6.º ano, escutou os primeiros insultos. Nos corredores, no recreio. Quando "ninguém estava a ouvir". No início, eram apenas três miúdas bem conhecedoras da sua história clínica. Para se proteger, Miguel deixou de sair da sala de aula nos intervalos. O professor avisou os pais. Eles sugeriram logo uma mudança de turma, mas o professor desaconselhou tal acto. Era uma turma "muito competitiva", era "bom para ele" estar ali. As férias grandes passaram e Miguel regressou às aulas. Como os rostos hostis eram os mesmos, permanecia longe do recreio. A professora tê-lo-á tentado forçar a sair e ele terá batido o pé, argumentando que tinha os seus "direitos de criança", que não o podiam obrigar. Os pais perceberam que "estava em pânico". Inquietaram-se. Correram a pedir a tal mudança de turma. Os insultos repetiam-se. Miguel era aluno de 3 e 4 valores. Este ano, inaugurou-se nas negativas. Duas no primeiro período, três no segundo.Talvez um miúdo saudável aguentasse. Talvez os outros pais achem os de Miguel "maluquinhos" ou "chatos" por insistirem tanto na mesma tecla. E isso que importa a Lizete e ao marido? O filho "já sofreu muito, já mostrou ser um grande lutador. Agora, está bem, mas nunca se sabe". Tinha sete anos quando lhe foi diagnosticado um cancro no sistema nervoso central. "A vida é uma coisa para curtir", diz.
"in publico"
quinta-feira, maio 10, 2007
quarta-feira, maio 09, 2007
UM ANO DE VIDA...
Hoje o Zarabutana faz um ano de existência...
A todos os que têm dinamizado este espaço, muito obrigado...
Foi um ano de experiências, coragem e alguma aprendizagem...
Termos sido discretos foi muito bom...apesar das seis mil visitas...
Continua-se a respirar por estes lados...
A equipa do ZARABUTANA
terça-feira, maio 08, 2007
Continuar a tomar um pouco de ar
Olá Zarabutana! Trezentos e sessenta e quatro dias (364).Sabias? É verdade! Dei conta quando decidi viajar pelas palavras.
Durante este tempo foram decalcadas curvas e contra curvas capazes de proporcionar riscos e curiosidades. Espaço de esconderijos, labirinto de sonhos. Foi ali e aqui que se redescobriu quase nada...
O suor das tentativas foi constante e as fronteiras nunca foram obstáculo...
Zarabutana, estou grato pela experiência...
Chegou-se até aqui...
Durante este tempo foram decalcadas curvas e contra curvas capazes de proporcionar riscos e curiosidades. Espaço de esconderijos, labirinto de sonhos. Foi ali e aqui que se redescobriu quase nada...
O suor das tentativas foi constante e as fronteiras nunca foram obstáculo...
Zarabutana, estou grato pela experiência...
Chegou-se até aqui...
O Sol amanhã volta a brilhar.
Para Meditar...
Levar os alunos a reflectir sobre a sua própria condição humana é um objectivo cujo cumprimento todo o professor se deveria exigir. No entanto, actualmente, tudo parece conjugado no sentido de o impedir, assistindo-se à mais completa infantilização e imbecilização dos alunos, através da elaboração de programas e esvaziamento dos seus conteúdos e imposição de estranhas pedagogias, que mais não fazem que acentuar o fosso entre ricos e pobres. É porque rejeito este status quo que sou apelidada pelo Ministério de Educação de elitista e por isso lhes respondi que elitistas seriam eles e as suas orientações, pois se não fosse a Escola a acrescentar algo ao discurso que os alunos, socialmente mais fragilizados, trazem de casa, quem o faria?
Pedagogo e intérprete da nobreza da pedagogia, o grande maestro e violinista Yehudi Menuhin salientou a importância da Cultura e da Arte no Ensino, dirigido a todos sem excepção, referindo a Escola como o lugar privilegiado para o fazer. Não se concretizando este objectivo fundamental, continua Menuhin, estaremos «a criar monstros», ou seja, pessoas insensíveis à sua própria condição humana.
Somos todos conhecedores da violência que grassa na Escola, denunciando a irresponsabilidade de quem pratica esses actos, a que se associa a ausência de valores humanistas. Na minha Escola, por exemplo, um aluno justificou candidamente que «só atirara a cabeça do colega contra a parede», quase indiferente às consequências do seu gesto brutal, de que resultou um traumatismo craniano para o seu companheiro.
A par da violência na Escola caminha a falta de exigência, com a agravante da última ser veiculada pelo próprio Ministério da Educação, cujas orientações vão no sentido do facilitismo lúdico e do recreio na sala de aula, transformando-se o professor no camarada, que sabe tanto quanto o aluno. Ao desvirtuar-se a relação Ensinar – Aprender, esquece-se a missão de um professor e o belíssimo significado da palavra «aprender», ou seja, «prender a si próprio». O que se passa com a disciplina de Português, que lecciono, é bem exemplo dessa situação. A Literatura, que é uma Arte e não um mero tipo de texto, e associada a outras expressões artísticas nos ajuda a descobrir o mistério que somos, mistério que é também a palavra-chave em toda a ciência, é agora perversamente subestimada, tendo sido ultrapassada pelos textos dos MEDIA e pelos textos normativos. De referir ainda a estratégia da cruz e do verdadeiro e falso utilizada vergonhosamente na interpretação dos textos literários e nos próprios exames. É óbvio que isto só se consegue com a cumplicidade dos professores que aceitam obedientemente estas directrizes, não as questionando sequer.
Há uma frase sublime de Henri Thoreau que me acompanha e que nos aconselha a resistir e a desobedecer. Ei-la: «Resiste muito. Obedece pouco». Esta é uma das mensagens que desejo deixar-vos, a par do texto poético de Álvaro de Campos e da história de Demógenes e do seu prato de lentilhas.
Pedagogo e intérprete da nobreza da pedagogia, o grande maestro e violinista Yehudi Menuhin salientou a importância da Cultura e da Arte no Ensino, dirigido a todos sem excepção, referindo a Escola como o lugar privilegiado para o fazer. Não se concretizando este objectivo fundamental, continua Menuhin, estaremos «a criar monstros», ou seja, pessoas insensíveis à sua própria condição humana.
Somos todos conhecedores da violência que grassa na Escola, denunciando a irresponsabilidade de quem pratica esses actos, a que se associa a ausência de valores humanistas. Na minha Escola, por exemplo, um aluno justificou candidamente que «só atirara a cabeça do colega contra a parede», quase indiferente às consequências do seu gesto brutal, de que resultou um traumatismo craniano para o seu companheiro.
A par da violência na Escola caminha a falta de exigência, com a agravante da última ser veiculada pelo próprio Ministério da Educação, cujas orientações vão no sentido do facilitismo lúdico e do recreio na sala de aula, transformando-se o professor no camarada, que sabe tanto quanto o aluno. Ao desvirtuar-se a relação Ensinar – Aprender, esquece-se a missão de um professor e o belíssimo significado da palavra «aprender», ou seja, «prender a si próprio». O que se passa com a disciplina de Português, que lecciono, é bem exemplo dessa situação. A Literatura, que é uma Arte e não um mero tipo de texto, e associada a outras expressões artísticas nos ajuda a descobrir o mistério que somos, mistério que é também a palavra-chave em toda a ciência, é agora perversamente subestimada, tendo sido ultrapassada pelos textos dos MEDIA e pelos textos normativos. De referir ainda a estratégia da cruz e do verdadeiro e falso utilizada vergonhosamente na interpretação dos textos literários e nos próprios exames. É óbvio que isto só se consegue com a cumplicidade dos professores que aceitam obedientemente estas directrizes, não as questionando sequer.
Há uma frase sublime de Henri Thoreau que me acompanha e que nos aconselha a resistir e a desobedecer. Ei-la: «Resiste muito. Obedece pouco». Esta é uma das mensagens que desejo deixar-vos, a par do texto poético de Álvaro de Campos e da história de Demógenes e do seu prato de lentilhas.
Maria do Carmo Vieira
Abril 2007