António Aniceto Monteiro (1907-1980) foi um dos maiores matemáticos portugueses – e ao mesmo tempo, um dos menos conhecidos por cá. Forçado ao exílio pelo regime salazarista, viveu quase toda sua vida profissional no Brasil e na Argentina, contribuindo de forma extraordinária para o desenvolvimento da matemática naqueles países. Faria amanhã 100 anos.
Em Fevereiro de 1945, aos quase 38 anos de idade, António Aniceto Monteiro embarca em Lisboa com destino ao Rio de Janeiro – e ao exílio que marcará o resto da sua vida. No Brasil, espera-o um cargo de professor na Faculdade Nacional de Filosofia, para o qual este ainda jovem mas já destacado matemático – nascido em Angola, licenciado da Faculdade de Ciências de Lisboa e doutorado da Sorbonne – foi recomendado por nada mais nem nada menos do que Albert Einstein, John von Neumann e Guido Beck.Monteiro abandona Portugal porque a entrada na carreira científica lhe foi vedada pelo regime de Salazar devido às suas convicções políticas. Desde 1938, de facto, tem estado a trabalhar sem ser remunerado por aquilo que faz. Em 1943, escreveu no seu currículo: “durante o período de 1938-43, todas as minhas funções docentes e de investigação foram desempenhadas sem remuneração; ganhei a vida dando lições particulares e trabalhando num Serviço de Inventariação de Bibliografia Científica existente em Portugal”.Isso não tem impedido Monteiro de desenvolver, ao longo dos anos, uma intensa actividade científica e docente na área da matemática pura, algo de quase inédito no país. Alguns exemplos: em1936, funda com outros eminentes matemáticos o Núcleo de Matemática, Física e Química; em 1937, a revista Portugaliae Mathematica; em 1940, é co-fundador, com Bento de Jesus Caraça e Ruy Luís Gomes, da revista Gazeta de Matemática e, no mesmo ano, da Sociedade Portuguesa de Matemática, da qual se torna o primeiro secretário-geral; em 1941, contribui decisivamente para a fundação do Centro de Estudos Matemáticos do Porto. “Ele fundou tudo quanto havia a fundar, participou em tudo quanto havia para participar”, dizia há poucos dias, numa entrevista ao Jornal da Voz do Operário, o matemático Jorge Rezende.Só que, em 1943, a situação tornou-se insustentável, obrigando Monteiro e sua família a partir. Diz ainda Resende na mesma entrevista: “[...] o Governo exigia que as pessoas assinassem um compromisso de fidelidade à Constituição de 1933 e assumissem não seguir os ideais comunistas. Ora, acontece que António Monteiro recusou assinar. Por via disso nunca leccionou em Portugal. [...] houve até antigos companheiros do Colégio Militar que o tentaram convencer a assinar o compromisso, mas ele disse que fazê-lo era um ‘insulto à sua inteligência’”.No Brasil, onde permaneceu quatro anos, Monteiro continuou incansavelmente a fazer o que tão bem sabia fazer e mais gostava: investigação em matemática (lógica, análise, topologia, álgebra), organizar o ensino e promover a investigação na área junto dos jovens universitários. “Monteiro esteve no Brasil até 1949”, escreve Circe Mary Silva da Silva, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória (Brasil), “e durante este tempo marcou sua presença com atividades importantes, influenciando um grande número de futuros matemáticos no Brasil”.Em 1949, a história repete-se: é o exílio dentro do exílio. Devido a pressões exercidas pela embaixada de Portugal no Rio, o contrato académico de Monteiro não é renovado. Mais uma vez, vê-se forçado a partir – desta vez para a Argentina. Primeiro, trabalha na Universidade de Cuyo (com sedes em várias cidades do norte do país), onde co-funda o Departamento de Investigações Científicas – “e dentro dele, o Instituto de Matemática, sob a direcção de Misha Cotlard [eminente matemático russo radicado na Argentina]”, escreve o matemático argentino Edgardo Luis Fernández Stacco num texto publicado no blogue oficial do centenário de Monteiro (http://antonioanicetomonteiro.blogspot.com). E acrescenta: “Este talvez tenha sido o centro matemático mais importante do país naquela altura.” Dum exílio ao outroEm 1957, Monteiro acaba por se fixar definitivamente na Universidade do Sul, em Bahia Blanca, com a tarefa de organizar os estudos de Matemática daquela instituição. Aí, um dos seus grandes objectivos será a criação de uma biblioteca de matemática de nível internacional para a investigação em matemática. A biblioteca, que hoje tem o seu nome, continua a ser uma das melhores da América Latina. Fernández Stacco recorda que, em 1958, Monteiro estava a dar uma aula quando chegou um camião com o primeiro carregamento de livros e revistas: “A aula foi suspensa; era a primeira vez que víamos revistas de matemática”. Em 1970, através de um sistema de intercâmbio entre revistas estrangeiras e publicações locais criadas por Monteiro, a biblioteca possuía as colecções de 453 publicações especializadas. Monteiro era um autêntico “agregador” de matemáticos: ao longo dos anos, visitaram o seu instituto em Bahía Blanca um grande número de conhecidos matemáticos estrangeiros, alguns dos quais lá ficaram definitivamente. Entre eles, o seu amigo de longa data Ruy Luís Gomes.Mas a ironia da História quis que Monteiro sofresse mais uma vez o exílio, numa manifestação mais local mas não menos dolorosa: em 1975, invocando as medidas anti-terroristas que estavam a ser tomadas pela ditadura argentina contra “a subversão”, o reitor ali colocado pelos militares proibiu a Monteiro, já reformado mas ainda em actividade, a entrada na Universidade e na própria biblioteca que ele tinha criado. O matemático Eduardo L. Ortiz, do Imperial College de Londres, que visitou Monteiro em Bahia Blanca, em 1980 (pouco tempo antes da sua morte), perguntou-lhe como é que se sentia em relação a essa situação. “Causa-me alguns problemas”, foi a resposta lacónica de Monteiro.Monteiro passou dois anos em Portugal após o 25 de Abril, entre 1977 e 1979, a convite do INIC (Instituto Nacional de Investigação Científica) em Lisboa, num cargo especialmente criado para ele. A sua actividade, apesar da sua saúde ser já frágil, não pôde deixar de ser marcante. Continuou a trabalhar nas suas próprias pesquisas, mas também a orientar jovens matemáticos. Duas teses de doutoramento foram o resultado desse esforço, que lhe valeu ainda o Prémio da Gulbenkian de Ciência e Tecnologia (em 1978). Em 1980, regressou a Bahia Blanca, onde morreu a 29 de Outubro.Abaixo o fascismo!Apesar da energia e paixão que sempre demonstrou, a nostalgia e a tristeza do exílio nunca o abandonaram. A prova disso: quando de uma viagem sabática pela Europa, em 1969-70, Monteiro evitou cuidadosamente passar por Lisboa. Numa carta enviada a 10 de julho de 1970 a Maria Laura Mousinho Leite Lopes, uma sua ex-aluna, escreveu: “Volto para a Argentina sem ir a Portugal. [...] Tive o cuidado de escolher um barco que não pára em Portugal. Ao sair de Vigo talvez veja a costa de Portugal de longe! O fascismo continua em Portugal devido ao apoio inglês e yanque. Assim são as democracias ocidentais e cristãs! A palavra de ordem ‘abaixo o fascismo’ não perdeu actualidade desde a década de 30, inclusive em França”.Nessa mesma viagem, quando da sua passagem por Paris, Monteiro estava a jantar num restaurante com amigos argentinos quando estes receberam a notícia de que o ditador Juán-Carlos Onganía, que governava em Buenos Aires desde 1966, tinha sido derrubado. Perante a alegria deles, Monteiro confessou o quanto teria gostado de ter recebido a mesma notícia sobre Salazar (já doente, e que morreria semanas depois).Mesmo depois da Revolução de Abril, Monteiro nunca se reconciliaria totalmente com a sua Universidade, disse-nos ontem, em conversa telefónica desde a Argentina, o seu filho Luíz, também ele matemático. Numa carta enviada a 5 de Junho de 1978 ao matemático Alfredo Pereira Lopes, na altura em Paris, Monteiro fala dessa sua desilusão: “[...] ainda não fiz as conferências na Faculdade de Ciências de Lisboa, que propus no mês de Outubro; pela simples razão de que não as marcaram”, escreve. “Não há interesse ou não querem. Paciência. Não volto a insistir que já me dá vergonha. Darei este mês uma série de conferências na Faculdade de Ciências do Porto. A de Lisboa parece que não mudou muito com o tempo.”Agradecer a SalazarO filósofo e físico argentino Mario Bunge resumiu da seguinte forma a personagem de Monteiro, numa conferência em Bahía Blanca em Dezembro de 1996: “Esse grande homem e matemático, cuja primeira preocupação ao pisar solo argentino foi a de criar uma escola”. E acrescentou com ironia: “Temos de agradecer ao ditador Salazar que fez a vida impossível ao Professor António Monteiro, porque assim ele veio para a Argentina.”De regresso a Bahía Blanca, Monteiro terá encarado ainda a possibilidade de regressar a Lisboa. Numa outra carta a Pereira Lopes, a 31 de Maio de 1979, após um período de doença, lá estava ele outra vez a trabalhar com grande entusiasmo: “Comecei de novo a levantar-me às 4 ou 5 da manhã para trabalhar. São tão lindos os temas sobre os quais estou trabalhando, que não quero perder tempo.”Mas numa das suas últimas cartas a Ortiz após o seu regresso, confiava, a propósito da sua vida: “Assim é a vida, caro Ortiz. Desgastamo-nos em tarefas que nunca acabam, mas apesar disso iniciamo-las com entusiasmo e dedicação, porque as esperanças e certezas nunca se perdem”. E num tom mais nostálgico: “Tristezas de Bahía Blanca! Nas margens do Napostá; entre os ventos e tormentas em que a terra nos afoga, vejo Lisboa distante – recordações da minha infância!”O seu centenário vai ser comemorado em simultâneo em Lisboa e Bahía Blanca, a partir de amanhã (informações em www.spm.pt).
Em Fevereiro de 1945, aos quase 38 anos de idade, António Aniceto Monteiro embarca em Lisboa com destino ao Rio de Janeiro – e ao exílio que marcará o resto da sua vida. No Brasil, espera-o um cargo de professor na Faculdade Nacional de Filosofia, para o qual este ainda jovem mas já destacado matemático – nascido em Angola, licenciado da Faculdade de Ciências de Lisboa e doutorado da Sorbonne – foi recomendado por nada mais nem nada menos do que Albert Einstein, John von Neumann e Guido Beck.Monteiro abandona Portugal porque a entrada na carreira científica lhe foi vedada pelo regime de Salazar devido às suas convicções políticas. Desde 1938, de facto, tem estado a trabalhar sem ser remunerado por aquilo que faz. Em 1943, escreveu no seu currículo: “durante o período de 1938-43, todas as minhas funções docentes e de investigação foram desempenhadas sem remuneração; ganhei a vida dando lições particulares e trabalhando num Serviço de Inventariação de Bibliografia Científica existente em Portugal”.Isso não tem impedido Monteiro de desenvolver, ao longo dos anos, uma intensa actividade científica e docente na área da matemática pura, algo de quase inédito no país. Alguns exemplos: em1936, funda com outros eminentes matemáticos o Núcleo de Matemática, Física e Química; em 1937, a revista Portugaliae Mathematica; em 1940, é co-fundador, com Bento de Jesus Caraça e Ruy Luís Gomes, da revista Gazeta de Matemática e, no mesmo ano, da Sociedade Portuguesa de Matemática, da qual se torna o primeiro secretário-geral; em 1941, contribui decisivamente para a fundação do Centro de Estudos Matemáticos do Porto. “Ele fundou tudo quanto havia a fundar, participou em tudo quanto havia para participar”, dizia há poucos dias, numa entrevista ao Jornal da Voz do Operário, o matemático Jorge Rezende.Só que, em 1943, a situação tornou-se insustentável, obrigando Monteiro e sua família a partir. Diz ainda Resende na mesma entrevista: “[...] o Governo exigia que as pessoas assinassem um compromisso de fidelidade à Constituição de 1933 e assumissem não seguir os ideais comunistas. Ora, acontece que António Monteiro recusou assinar. Por via disso nunca leccionou em Portugal. [...] houve até antigos companheiros do Colégio Militar que o tentaram convencer a assinar o compromisso, mas ele disse que fazê-lo era um ‘insulto à sua inteligência’”.No Brasil, onde permaneceu quatro anos, Monteiro continuou incansavelmente a fazer o que tão bem sabia fazer e mais gostava: investigação em matemática (lógica, análise, topologia, álgebra), organizar o ensino e promover a investigação na área junto dos jovens universitários. “Monteiro esteve no Brasil até 1949”, escreve Circe Mary Silva da Silva, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória (Brasil), “e durante este tempo marcou sua presença com atividades importantes, influenciando um grande número de futuros matemáticos no Brasil”.Em 1949, a história repete-se: é o exílio dentro do exílio. Devido a pressões exercidas pela embaixada de Portugal no Rio, o contrato académico de Monteiro não é renovado. Mais uma vez, vê-se forçado a partir – desta vez para a Argentina. Primeiro, trabalha na Universidade de Cuyo (com sedes em várias cidades do norte do país), onde co-funda o Departamento de Investigações Científicas – “e dentro dele, o Instituto de Matemática, sob a direcção de Misha Cotlard [eminente matemático russo radicado na Argentina]”, escreve o matemático argentino Edgardo Luis Fernández Stacco num texto publicado no blogue oficial do centenário de Monteiro (http://antonioanicetomonteiro.blogspot.com). E acrescenta: “Este talvez tenha sido o centro matemático mais importante do país naquela altura.” Dum exílio ao outroEm 1957, Monteiro acaba por se fixar definitivamente na Universidade do Sul, em Bahia Blanca, com a tarefa de organizar os estudos de Matemática daquela instituição. Aí, um dos seus grandes objectivos será a criação de uma biblioteca de matemática de nível internacional para a investigação em matemática. A biblioteca, que hoje tem o seu nome, continua a ser uma das melhores da América Latina. Fernández Stacco recorda que, em 1958, Monteiro estava a dar uma aula quando chegou um camião com o primeiro carregamento de livros e revistas: “A aula foi suspensa; era a primeira vez que víamos revistas de matemática”. Em 1970, através de um sistema de intercâmbio entre revistas estrangeiras e publicações locais criadas por Monteiro, a biblioteca possuía as colecções de 453 publicações especializadas. Monteiro era um autêntico “agregador” de matemáticos: ao longo dos anos, visitaram o seu instituto em Bahía Blanca um grande número de conhecidos matemáticos estrangeiros, alguns dos quais lá ficaram definitivamente. Entre eles, o seu amigo de longa data Ruy Luís Gomes.Mas a ironia da História quis que Monteiro sofresse mais uma vez o exílio, numa manifestação mais local mas não menos dolorosa: em 1975, invocando as medidas anti-terroristas que estavam a ser tomadas pela ditadura argentina contra “a subversão”, o reitor ali colocado pelos militares proibiu a Monteiro, já reformado mas ainda em actividade, a entrada na Universidade e na própria biblioteca que ele tinha criado. O matemático Eduardo L. Ortiz, do Imperial College de Londres, que visitou Monteiro em Bahia Blanca, em 1980 (pouco tempo antes da sua morte), perguntou-lhe como é que se sentia em relação a essa situação. “Causa-me alguns problemas”, foi a resposta lacónica de Monteiro.Monteiro passou dois anos em Portugal após o 25 de Abril, entre 1977 e 1979, a convite do INIC (Instituto Nacional de Investigação Científica) em Lisboa, num cargo especialmente criado para ele. A sua actividade, apesar da sua saúde ser já frágil, não pôde deixar de ser marcante. Continuou a trabalhar nas suas próprias pesquisas, mas também a orientar jovens matemáticos. Duas teses de doutoramento foram o resultado desse esforço, que lhe valeu ainda o Prémio da Gulbenkian de Ciência e Tecnologia (em 1978). Em 1980, regressou a Bahia Blanca, onde morreu a 29 de Outubro.Abaixo o fascismo!Apesar da energia e paixão que sempre demonstrou, a nostalgia e a tristeza do exílio nunca o abandonaram. A prova disso: quando de uma viagem sabática pela Europa, em 1969-70, Monteiro evitou cuidadosamente passar por Lisboa. Numa carta enviada a 10 de julho de 1970 a Maria Laura Mousinho Leite Lopes, uma sua ex-aluna, escreveu: “Volto para a Argentina sem ir a Portugal. [...] Tive o cuidado de escolher um barco que não pára em Portugal. Ao sair de Vigo talvez veja a costa de Portugal de longe! O fascismo continua em Portugal devido ao apoio inglês e yanque. Assim são as democracias ocidentais e cristãs! A palavra de ordem ‘abaixo o fascismo’ não perdeu actualidade desde a década de 30, inclusive em França”.Nessa mesma viagem, quando da sua passagem por Paris, Monteiro estava a jantar num restaurante com amigos argentinos quando estes receberam a notícia de que o ditador Juán-Carlos Onganía, que governava em Buenos Aires desde 1966, tinha sido derrubado. Perante a alegria deles, Monteiro confessou o quanto teria gostado de ter recebido a mesma notícia sobre Salazar (já doente, e que morreria semanas depois).Mesmo depois da Revolução de Abril, Monteiro nunca se reconciliaria totalmente com a sua Universidade, disse-nos ontem, em conversa telefónica desde a Argentina, o seu filho Luíz, também ele matemático. Numa carta enviada a 5 de Junho de 1978 ao matemático Alfredo Pereira Lopes, na altura em Paris, Monteiro fala dessa sua desilusão: “[...] ainda não fiz as conferências na Faculdade de Ciências de Lisboa, que propus no mês de Outubro; pela simples razão de que não as marcaram”, escreve. “Não há interesse ou não querem. Paciência. Não volto a insistir que já me dá vergonha. Darei este mês uma série de conferências na Faculdade de Ciências do Porto. A de Lisboa parece que não mudou muito com o tempo.”Agradecer a SalazarO filósofo e físico argentino Mario Bunge resumiu da seguinte forma a personagem de Monteiro, numa conferência em Bahía Blanca em Dezembro de 1996: “Esse grande homem e matemático, cuja primeira preocupação ao pisar solo argentino foi a de criar uma escola”. E acrescentou com ironia: “Temos de agradecer ao ditador Salazar que fez a vida impossível ao Professor António Monteiro, porque assim ele veio para a Argentina.”De regresso a Bahía Blanca, Monteiro terá encarado ainda a possibilidade de regressar a Lisboa. Numa outra carta a Pereira Lopes, a 31 de Maio de 1979, após um período de doença, lá estava ele outra vez a trabalhar com grande entusiasmo: “Comecei de novo a levantar-me às 4 ou 5 da manhã para trabalhar. São tão lindos os temas sobre os quais estou trabalhando, que não quero perder tempo.”Mas numa das suas últimas cartas a Ortiz após o seu regresso, confiava, a propósito da sua vida: “Assim é a vida, caro Ortiz. Desgastamo-nos em tarefas que nunca acabam, mas apesar disso iniciamo-las com entusiasmo e dedicação, porque as esperanças e certezas nunca se perdem”. E num tom mais nostálgico: “Tristezas de Bahía Blanca! Nas margens do Napostá; entre os ventos e tormentas em que a terra nos afoga, vejo Lisboa distante – recordações da minha infância!”O seu centenário vai ser comemorado em simultâneo em Lisboa e Bahía Blanca, a partir de amanhã (informações em www.spm.pt).
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