quarta-feira, outubro 31, 2007
terça-feira, outubro 30, 2007
Merda de mundo...
Embriagado, João Inácio foi manietado de tal forma que ficou impossibilitado de virar o pescoço – tentou vomitar e não conseguiu. Este facto, aliado ao problema de saúde (asma), ao álcool e ao intenso frio, ter-lhe-ão causado a morte, já que não apresentava sinais de agressões.
A autópsia realizou-se ontem no Instituto de Medicina Legal da Covilhã mas as autoridades pediram exames complementares de forma a se apurar a taxa de álcool e se o organismo tinha substâncias psicotrópicas.
Os quatro detidos pela PJ (três jovens e um homem de 49 anos com problemas mentais), suspeitos de terem amarrado a vítima, foram ontem presentes ao juiz do Tribunal da Covilhã. Foram recebidos com apupos por familiares da vítima e dezenas de curiosos. Pouco depois das 22h00 foram mandados recolher à cadeia em prisão preventiva.
A PJ identificou ainda mais cinco pessoas, entre elas uma mulher, que presenciaram parte do ocorrido mas que não tiveram relação directa com a morte. Não está colocada de parte a possibilidade de novas detenções.
Segundo se apurou, naquela noite João Inácio foi ver o Sporting ao café, onde bebeu três ‘minis’. Depois o café fechou e encontrou-se com os jovens, com quem esteve até de madrugada a consumir bebidas alcoólicas.
Por volta das 03h00 os suspeitos ataram-no e abandonaram-no. Foi encontrado três horas e meia depois, já morto. Estava com as pernas e os braços atados ao gradeamento da janela do café e ao carro. “Não pôde mover-se para vomitar”, disse ao Correio da Manhã fonte ligada ao processo.
Os suspeitos foram detidos em meia hora e disseram “que tudo não passou de uma brincadeira” e que “não tinham intenção de matar” João Inácio.
A autópsia realizou-se ontem no Instituto de Medicina Legal da Covilhã mas as autoridades pediram exames complementares de forma a se apurar a taxa de álcool e se o organismo tinha substâncias psicotrópicas.
Os quatro detidos pela PJ (três jovens e um homem de 49 anos com problemas mentais), suspeitos de terem amarrado a vítima, foram ontem presentes ao juiz do Tribunal da Covilhã. Foram recebidos com apupos por familiares da vítima e dezenas de curiosos. Pouco depois das 22h00 foram mandados recolher à cadeia em prisão preventiva.
A PJ identificou ainda mais cinco pessoas, entre elas uma mulher, que presenciaram parte do ocorrido mas que não tiveram relação directa com a morte. Não está colocada de parte a possibilidade de novas detenções.
Segundo se apurou, naquela noite João Inácio foi ver o Sporting ao café, onde bebeu três ‘minis’. Depois o café fechou e encontrou-se com os jovens, com quem esteve até de madrugada a consumir bebidas alcoólicas.
Por volta das 03h00 os suspeitos ataram-no e abandonaram-no. Foi encontrado três horas e meia depois, já morto. Estava com as pernas e os braços atados ao gradeamento da janela do café e ao carro. “Não pôde mover-se para vomitar”, disse ao Correio da Manhã fonte ligada ao processo.
Os suspeitos foram detidos em meia hora e disseram “que tudo não passou de uma brincadeira” e que “não tinham intenção de matar” João Inácio.
"in correio da manha"
segunda-feira, outubro 29, 2007
domingo, outubro 28, 2007
sábado, outubro 27, 2007
quinta-feira, outubro 25, 2007
Alma Crua...
Um rapaz que eu conheço.
"Eu conheço um rapaz, mais ou menos da minha idade, que sabe ser feliz. Ninguém tem explicação para esta condição altamente fora do normal, altamente improvável. Ele tem três irmãos e todos eles são pessoas comuns, iguais a milhões, biliões de outras. Quanto estão zangados, dizem palavras de que se arrependem. Quando estão desiludidos, vê-se nos seus rostos. Quando estão muito tristes, choram. Já o rapaz que sabe ser feliz nunca diz palavras de que se arrepende, nunca se vê o desalento no seu rosto, nunca chora. O seu rosto é o seu sorriso. Quando chega, sorri. Quando se despede, sorri. Fica muito tempo a ouvir as pessoas que querem falar com ele. Há muitas pessoas que gostam de falar com ele. Ele ouve nos momentos em que as pessoas querem que ele ouça. Ele faz perguntas nos momentos em que as pessoas querem sentir que ele está interessado. Ele sorri durante o tempo todo da conversa. Muitas vezes, as pessoas contam-lhe histórias tristes. Contam-lhe coisas más que fizeram, porque sabem que ele entenderá. Contam-lhe histórias de coisas que aconteceram: maldades e coisas más. Ele ouve porque gosta verdadeiramente de ouvir. Ele faz perguntas porque sente curiosidade verdadeiramente. Ele sorri sempre. Quando as pessoas lhe falam de coisas más, ele não sorri, mas ele sorri. Os seus lábios não têm a forma de um sorriso, mas os seus olhos sorriem. Os seus olhos não sorriem, mas têm um brilho que é um sorriso. Quando estão muitas pessoas e ele chega, passa pouco tempo e todos sorriem com ele. Os mais amargos sorriem. Os mais invejosos sorriem. Os mais perversos sorriem. Os funcionários de repartições, os poetas, os advogados sorriem. Quando se despede, sorri e o seu sorriso permanece no rosto das pessoas durante o resto do dia. Contam-se muitas histórias sobre ele. Diz-se que, quando ele põe as mãos em concha, cresce uma bola de luz dentro das suas mãos. Diz-se que, quando ninguém está a ver, ele entorna essa luz sobre a cabeça das pessoas. Eu não duvido dessas histórias. Nunca vi essa bola de luz, nunca ninguém a viu, mas acredito. O seu sorriso é a sombra da sua alegria. Quando ele sorri, existe no seu interior uma alegria que é o sol. Quando ele sorri, o sol inteiro está apertado, quase a explodir, dentro dele. O seu sorriso tem muitas formas. É terno, entusiasmado, meigo, vivo, brando. As formas do seu sorriso são as formas exactas da alegria que existe dentro dele. Ele é sincero. Sabe ser feliz e, por isso, ele é feliz.Contam-se muitas histórias sobre a origem da sua felicidade. Ninguém sabe qual é a verdadeira. Cada pessoa conta uma história diferente. Às vezes, as pessoas discutem sobre isso. Nunca chegam a uma conclusão. Se uns dizem que foi um vírus, outros dizem que nasceu assim. Às vezes, as pessoas zangam-se umas com as outras por causa disso. Às vezes, deixam de falar umas com as outras por causa disso. Fazem as pazes no momento em que voltam a encontrar o rapaz. Se uma dessas pessoas encontrar o rapaz de manhã, se a outra encontrar o rapaz à tarde, ficam com um sorriso grande para o resto do dia. Se depois disso se encontrarem, fazem as pazes. Uma das pessoas ficará a repetir desculpas para a outra que, ao mesmo tempo, repetirá desculpas também. Poucos horas depois de nascer, quando a mãe estava na maternidade, com os cabelos sobre a almofada, sem força, quando o pai estava de pé ao lado da cama, quando a enfermeira chegou com ele ao colo, quando a mãe o aceitou nos braços e fez com os lábios a forma de beijinhos, quando o pai se inclinou para o ver melhor, quando os pais o consideraram seu pela primeira vez, a mãe disse: Olha, parece que está a sorrir. Alguém me contou que, depois dessa hora, os seus pais sorriram durante o resto do dia. As pessoas que eles encontram sorriram também durante o resto do dia, assim como sorriram as pessoas que essas pessoas encontram. Aquele sorriso alastrou-se pelo mundo como se o varresse e, na última hora desse dia, todas as pessoas vivas sorriram. Ninguém sabe ao certo se essa história é verdadeira, mas não deixa de ser uma boa história.A verdade absoluta é que esse rapaz que eu conheço sabe ser feliz. Já houve gente a pedir-lhe que explicasse a felicidade. Ele sorriu e não soube responder. Aqueles que lhe perguntaram sorriram e aceitaram essa resposta. Talvez ponha as mãos em concha, talvez cresça uma bola de luz dentro das suas mãos. Porque não? Eu e toda a gente que o conhece muitas vezes deixámos que as nossas mãos ficassem em concha durante momentos. Não resultou. Eu e toda a gente que conhece esse rapaz achámos que não conseguíamos. Duvidámos. Sofremos por duvidar. Depois, entendemos. As mãos em concha, uma bola de luz a crescer dentro das mãos. Faltava o mais importante. Eu e todos, em algum momento das nossas vidas percebemos que não basta formar uma concha com as mãos, é preciso sorrir. Depois, se olharmos bem, veremos como cresce uma bola de luz. Natural, incandescente, limpa. Quando ninguém está a ver, podemos entorná-la sobre a cabeça de alguém. O seu sorriso ensinar-nos-à sorrir ainda mais.
" José Luís Peixoto"
segunda-feira, outubro 22, 2007
Pensamento do dia...
"O maior prazer de um homem inteligente é armar-se em idiota diante de um idiota que se arma em inteligente".
O IDIOTA E A MOEDA
O IDIOTA E A MOEDA
Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas. Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam-lhe a escolha entre duas moedas: - uma grande de 400 REIS e outra menor, de 2000 REIS. Ele escolhia sempre a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos de todos. Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e perguntou-lhe se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos. Eu sei, respondeu o tolo. "Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar a minha moeda." Pode tirar-se várias conclusões dessa pequena narrativa.
A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.
A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da história?
A terceira : Se você for ganancioso, acaba por estragar a sua fonte de rendimento.
Mas a conclusão mais interessante é: A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito. Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim o que realmente somos.
domingo, outubro 21, 2007
Alma Crua...
"Os gatos dormiam sobre o tapete ou sobre o sofá. Uma multidão de gatos a dormirem confortáveis. À noite, sentava-me na escrivaninha, com páginas escritas de um lado, com uma folha branca, com a esferográfica na mão direita. À noite, a minha mãe deitava-se no sofá grande. Os gatos, um a um, subiam para cima dela. Gatos cinzentos, brancos, castanhos, pretos. Um a um, os gatos subiam para cima dela e deitavam-se e cobriam-na. O olhar da minha mãe era vago. A expressão no seu rosto inexpressiva. Parava o olhar de encontro a algum objecto, como se pensasse, e eu sabia que não pensava em nada. A minha mãe não pensava em nada. Às vezes, eu olhava a minha mãe e gostava de a poder abraçar."
"José Luis Peixoto in uma casa na escuridão"
sexta-feira, outubro 19, 2007
Pedaços de papel...
..com Vinicius de Moraes
"Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou.
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar"
"Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou.
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar"
terça-feira, outubro 16, 2007
Pedaços de Adriano...
"A fala do homem nascido"
Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido,
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr.
Tenho pressa de viver
que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte,
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem,
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem
correntes que me detenham.
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar,
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar.
Não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar.
com licença com licença
com rumo à estrela polar.
António Gedeão
Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido,
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr.
Tenho pressa de viver
que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder.
Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte,
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem,
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem
correntes que me detenham.
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu.
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar,
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar.
Não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar.
com licença com licença
com rumo à estrela polar.
António Gedeão
Pedaços de Liberdade...
TROVA DO VENTO QUE PASSA
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diza
o trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novos
e notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diza
o trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novos
e notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre
segunda-feira, outubro 15, 2007
sexta-feira, outubro 12, 2007
Pedaços de Papel...
...com José Luís Peixoto
“Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo. Como sangue somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança, o desencanto.”
quarta-feira, outubro 10, 2007
Pedaços de papel...
... com Gonçalo Manuel Tavares
O senhor Valéry era perfeccionista.Só tocava nas coisas que estavam à sua esquerda com a mão esquerda, e nas coisas que estavam à sua direita com a mão direita.
Ele dizia:– O Mundo tem 2 lados: o direito e o esquerdo, tal como o corpo; e o erro surge quando alguém toca o lado direito do Mundo com o lado esquerdo do corpo, ou vice-versa.
Seguindo escrupulosamente esta teoria, o senhor Valéry explicava:
– Eu dividi a minha casa em dois, com uma linha.
E desenhava…
– Defini um lado direito e um lado esquerdo
Lado direito Lado esquerdo
– Assim, para os objectos do lado direito reservo a minha mão direita e vice-versa.
Nesse momento, perante uma dúvida colocada por um amigo, o senhor Valéry explicou:
– Aos objectos muito pesados coloco-os exactamente com o seu centro na linha.
E desenhou…
– Assim – explicava o senhor Valéry – posso carregá-los utilizando a mão esquerda e a mão direita, desde que tenha o cuidado de os transportar com o seu centro exactamente sobre a linha divisória.
– Para os objectos leves – continuou o senhor Valéry – não necessito de tantas preocupações: mudo-lhes a posição apenas com uma mão. A mão certa, claro.
– Mas como manter esse rigor em todas as situações? – perguntou-lhe o mesmo amigo: quando o senhor Valéry está de costas, por exemplo, como sabe qual a parte direita e a esquerda da casa?
O senhor Valéry mostrou-se quase ofendido com a questão, pois não gostava de ser posto em causa, e respondeu, bruscamente:
– Eu nunca viro as costas às coisas.
(Isto era o que o senhor Valéry dizia, mas na verdade, para nunca se enganar, havia pintado todo o lado direito da casa, incluindo os seus objectos, de vermelho, e todo o lado esquerdo de azul. Assim se percebia melhor a verdadeira razão de o senhor Valéry ter pintado a sua mão direita de vermelho e a esquerda de azul. Não tinha sido um acto estético, como ele dizia. Era bem mais do que isso.)
terça-feira, outubro 09, 2007
segunda-feira, outubro 08, 2007
domingo, outubro 07, 2007
sexta-feira, outubro 05, 2007
Pensamento do dia...
"E chegamos à melhor parte da escola que é aprender a unir letras, a formar as palavras, a acompanhar as linhas que percorrem as imagens dos filmes, e, como um livro de histórias, poder contá-las aos amigos ao nosso lado.
Ou então aprender que, como a nossa, há famílias de palavras e se as dissermos em voz alta elas se tornam uma espécie de música: sai de nós, todos as podem ouvir, acompanhar. Anos mais tarde, sabemos que há uma espécie de música sem flautas nem piamos - chama-se poesia - e é bom que se possa ler e ouvir de uma forma assim alegre."
por cortesia, diana pimentel
quinta-feira, outubro 04, 2007
Em Estilo Amável
Chega ao fim o verão, resta-me agora
a poesia a caminho da prosa.
Pelo lado matinal
um gato pé ante pé aproxima-se
de um pardal saltitando
entre as folhas amarelas. "É o meu coração,
a luz é o meu coração", diz ele, e salta,
voa na tarde. O mar
recua, uma criança vem vindo pelo molhe,
canta canta por cantar.
Um velho traz o céu
azul pela mão, olha de soslaio
os rapazes ao passar. Afável,
distraído, simples de espírito.
Como deus. E como eu.
in Os Dóceis Animais de Eugénio de Andrade
a poesia a caminho da prosa.
Pelo lado matinal
um gato pé ante pé aproxima-se
de um pardal saltitando
entre as folhas amarelas. "É o meu coração,
a luz é o meu coração", diz ele, e salta,
voa na tarde. O mar
recua, uma criança vem vindo pelo molhe,
canta canta por cantar.
Um velho traz o céu
azul pela mão, olha de soslaio
os rapazes ao passar. Afável,
distraído, simples de espírito.
Como deus. E como eu.
in Os Dóceis Animais de Eugénio de Andrade
Bom Fim de Semana
-Quem ri por último... ...é de compreensão lenta.
-Os últimos são sempre... ...desclassificados.
-Quem o feio ama... ...tem que ir ao oculista.
-Deitar cedo e cedo erguer... ...dá muito sono!
-Filho de peixe ... ...é tão feio como o pai.
-Quem não arrisca... ...não se lixa.
-O pior cego... ...é o que não quer cão nem bengala.
-Quem dá aos pobres... ...fica mais teso.
-Há males que vêm... ...e ficam.
-Gato escaldado... ...geralmente esta morto.
-Mais vale tarde... ...que muito mais tarde.
-Cada macaco... ....com a sua macaca.
-Águas passadas... ...já passaram.
-Depois da tempestade... ...vem a gripe.
-Vale mais um pássaro na mão ... que uma cagadela na cabeça.
-Os últimos são sempre... ...desclassificados.
-Quem o feio ama... ...tem que ir ao oculista.
-Deitar cedo e cedo erguer... ...dá muito sono!
-Filho de peixe ... ...é tão feio como o pai.
-Quem não arrisca... ...não se lixa.
-O pior cego... ...é o que não quer cão nem bengala.
-Quem dá aos pobres... ...fica mais teso.
-Há males que vêm... ...e ficam.
-Gato escaldado... ...geralmente esta morto.
-Mais vale tarde... ...que muito mais tarde.
-Cada macaco... ....com a sua macaca.
-Águas passadas... ...já passaram.
-Depois da tempestade... ...vem a gripe.
-Vale mais um pássaro na mão ... que uma cagadela na cabeça.