sábado, março 31, 2007

Para Meditar...

«João: isto é um matadouro!"» Foram as primeiras palavras de João Tilly dos Santos, um doente abandonado como tantos outros nos corredores das urgências do Hospital de Coimbra, mal me viu irromper por eles adentro, à revelia das normas vigentes. Por isso mesmo, por ninguém esperar que um acompanhante ali aparecesse é que tive a oportunidade de ver os doentes agonizantes enquanto os médicos e enfermeiras, em amena cavaqueira, confraternizavam em grupo discutindo onde iriam jantar logo à noite e outros assuntos mundanos. Os doentes, abandonados, jaziam nos corredores, cada um para seu lado, deitados em macas encostadas às paredes. Uns, os que têm a sorte de não estarem muito mal, sobrevivem. Os outros, não. Três anos depois continuamos sem saber o resultado da autópsia.Um homem foi deixado à sua sorte nos corredores dos hospitais e acabou por morrer.Ainda ninguém pagou por isso. Outros podem ter já morrido vitimas da mesma displicência e "deixa andar" das mesmas equipes clínicas.Por isso aqui deixo, de novo, a história do fim da vida de João Tilly dos Santos. Um português inteligentíssimo que teve a percepção de que ia ser deixado morrer por inépcia dos médicos que o "assistiram". Eu é que nunca acreditei nisso. Mas aconteceu. Para que nunca mais aconteça. Em memória do maior damista e acordeonista que estas paragens alguma vez viram.
A HISTÓRIA
Do Hospital de Seia, enviam-no para o de Coimbra com suspeitas de pneumonia ou enfarte de miocárdio. Do Hospital de Coimbra devolvem-no para o de Seia muito pior de saúde do que lá chegou e sem nenhuma razão aparente. Os sintomas tinham-se agravado sobremaneira, entretanto.Do Hospital de Seia enviam-no para o da Guarda porque cá não há PneumologiaDo Hospital da Guarda enviam-no novamente para o de Coimbra, sem sequer entrar na Pneumologia e sem conhecimento dos familiares.Do Hospital de Coimbra enviam-no... para a morgue.E tudo isto sem um único tratamento, a não ser... soro!Fica aqui o relato dos últimos 5 dias de vida do meu Pai que, acredito, possam servir a alguém que passe pelo mesmo.Quanto mais não seja para evitar que o Serviço Nacional de Saúde mate por absoluta negligência um seu ente querido, tal como fez com o meu.Sexta - feira, 19 (dia do Pai) - o meu pai sente-se subitamente mal com problemas intestinais.Nada que justificasse uma ida ao hospital, pensou ele.E foi para a cama mais cedo.Sábado, 20 de Março - O meu irmão leva o meu pai e a minha mãe ao Hospital de Seia, já que entretanto tinham-lhe surgido umas dores gástricas a nível do esófago.Cada vez que engolia eram dores insuportáveis que mal o deixavam respirar.Foi medicado e fui buscá-los ao Hospital de Seia por volta das 7 da tarde. Entrou no carro pelo seu pé.Fomos à Farmácia aviar a receita e levei-os a casa.A noite passou-a mal.As dores não desapareciam e agora surgia a dúvida se não seria também uma infecção na traqueia, já que até a inspiração do ar lhe causava pena.Decidiu não ir novamente ao Hospital porque a medicação «ainda não teria tempo de começar a fazer efeito».Combinou-se que iria no dia seguinte, segunda-feira, se não melhorasse entretanto.O certo é que nessa mesma noite, por volta das 00:30h teve que se chamar uma ambulância, porque o meu pai já não podia com dores.No Hospital ficou a soro.Fez análises de manhã, em que lhe diagnosticaram vestígios de enfarte de miocárdio e uma pneumonia.Enviaram-no para os Hospitais da Universidade de Coimbra - a única coisa que foi bem feita em todo este processo.Esse favor devemos à Dra Margarida Ascensão e aqui lhe deixo os meus (e os dele, que muito insistiu em vida para que lhos desse) profundos agradecimentos.Segunda-feira, 22 - O meu pai chega a Coimbra cerca do meio dia. Eu, que só tomo conhecimento dessa transferência e do seu preocupante diagnóstico por volta dessa hora, sigo de imediato para lá com a minha mãe.Estivemos nas Urgências desde as 14:30h repetidamente perguntando pelo seu estado de saúde até às 17:00h.Primeiro disseram-nos "que estava bem disposto" mas em observação.Que perguntássemos passadas 2 horas, outra vez. O que fizemos.Aí, a informação já foi outra: que o seu estado era muito preocupante e apresentava um quadro grave de provável pneumonia ou enfarte de miocárdio, o que já sabíamos desde Seia.Que ia ficar internado de certeza. Claro que já o suspeitávamos, dado o diagnóstico de Seia.Perguntámos se era preciso ir buscar a roupa que estava no carro e a enfermeira disse que não.Que «ele não se podia levantar», que estava «prostrado» e que «não acreditava que pudesse levantar-se nem sequer para ir à casa de banho.»Fiquei preocupadíssimo e pedi para mo deixarem ver nem que fossem só 5 minutos.Que não, «nas Urgências não se podem ver doentes».Mas após a minha insistência e quando lhe dissemos que «somos de Seia - a 100 Kms de distância - e que assim sendo iríamos embora, porque não estavamos ali a fazer nada», lá condescendeu a deixar-me ir «dar-lhe uma palavrinha de não mais que 5 minutos e sair de imediato».Assim fiz.Entrei e, depois de mais um tempo de espera, lá encontro o meu pai deitado numa maca num corredor, ao pé de tantos outros.A receber soro. Como em Seia.Ficou radiante por me ver e disse-me logo:« - João: isto aqui é um matadouro!»«Ninguém quer saber dos doentes. Olha que estou há horas a pedir uma pinga de água para molhar os lábios e ainda não ma deram. Já não sinto os lábios nem a boca de ressequidos que estão.»Dirigi-me a um auxiliar que foi muito amável (tive sorte) e me arranjou um copo de água "choca", segundo o meu pai.Assim que a bebeu, rejeitou-a logo. Não conseguia manter nada no estômago. Nem sequer água pura.Enquanto era acometido dos vómitos chamei por um médico ou alguém num grupo de 7 ou 8 pessoas entre médicos e enfermeiros que estavam a cerca de 6 metros em amena cavaqueira e de costas para nós.Um deles virou-se, viu o meu pai aflito e perguntou:- Está a vomitar?Respondi: está sim. Está aflito. Não podem ajudar?«Está bem», disse, e voltou novamente as costas, continuando a conversa com os colegas.Eu nem queria acreditar naquilo!Mas como entretanto ele ficou melhor, parando com os vómitos, controlei-me e decidi chamar um outro médico para lhe dizer que o doente já não comia nada desde sexta-feira (há 4 dias) e que devia ter algum problema gástrico.Transmiti isso a um médico jovem que entretanto se aproximou da maca.Disse-me que o meu pai ia ser visto, mais tarde, por um especialista que devia estar a chegar.Passadas 3 horas apareceu um médico ainda mais jovem que lhe perguntou o que tinha.O meu pai começou a explicar tudo, com grande esforço, porque já mal conseguia falar, mas o médico interrompeu-o passados 10 segundos de explicações e, olhando apenas para os papéis que tinha nas mãos, lhe disse, no tom mais seco que já ouvi a alguém:«- olhe, isto é assim: Eu devia fazer-lhe uma endoscopia, mas como o sr tem aqui suspeitas de enfarte de miocárdio não lha posso fazer». Virou as costas e foi-se embora.Fiquei a olhar para o meu pai e ele para mim, atónitos.E agora?Ao que o primeiro médico jovem me respondeu que «em princípio iam mandá-lo de volta para Seia».«- Mas sem poder comer nada? perguntei.Então não vêem o que é que ele tem, que o impede de engolir nem que seja uma gota de água»?Não obtive resposta.O médico encolheu os ombros e foi-se embora.Passado mais uma hora, uma profissional de bata larga, aberta e esvoaçante de cor verde (não sei se seria médica) jovem e divertidíssima, que esteve sempre a rir-se e às gargalhadas com os colegas, dirigiu-se ao telefone e perguntou se havia alguma ambulância para Seia.Eram 19 horas. Não sei o que lhe responderam, mas ela, gargalhando sempre, gritou:- Que sorte! E depois de mais de cerca de 5 minutos de conversa de circunstância sobre saídas à noite e marcações de jantares com a pessoa do outro lado, desligou o telefone, sempre a rir.Estava visivelmente satisfeita.Ainda bem, - pensei eu. É sinal que as coisas lhe estão a correr bem.Passou-se uma hora.Eu perguntei de novo a um médico que passava se iam mesmo enviá-lo para Seia, porque o meu pai já tinha muita dificuldade em respirar e dizia que lhe doía tudo.Disse-me para esperar.Às 20 horas e 15 minutos, a médica das gargalhadas, sempre sorrindo, telefonou outra vez.«Ainda está aí a ambulância para Seia»?Ficou mais séria. Percebeu-se nitidamente que já não.- Mas eu tinha-a pedido... balbuciou, agora sem rir.Acabou a conversa e escreveu num papel aos pés da maca do meu pai:«Transporte para Hospital de Seia pedido às 20 horas».Continuei à espera, ao pé dele, e cerca das 21 horas comecei a passar-me da cabeça e tirei várias fotografias, com o telemóvel, ao papel e ao estado em que o meu pai estava.Praticamente já não falava.Aproxima-se de mim um médico e convida-me a sair, «para evitar confusão». Não havia qualquer confusão.Em toda a tarde do dia 22 não tinha entrado nenhum doente em estado grave, pelo que o mais grave seria mesmo o meu pai.Mas acatei a ordem e saí, informando que ficava à espera do doente nas urgências.Mal tinha chegado lá fora ouço chamar ao microfone «os acompanhantes de João Tilly dos Santos».Voltei para dentro a correr.Ao chegar lá, novamente, aproxima-se de mim um médico que se identificou como sendo o chefe da equipa e me disse que «lhe tinham dito que eu andara a tirar fotografias ao banco, o que era muito desagradável.»Eu respondi que tirei fotografias ao meu pai, apenas, e mostrei uma delas.Perguntei se o meu pai sempre ia para Seia ao que ele respondeu que não sabia (!), e perguntou-me a mim se o cardiologista lhe tinha dado alta (!!!).Fiquei embasbacado e respondi que não sabia mas que «era o que estavam a dizer (a médica das gargalhadas ao telefone)».Disse, então, que devia ir para Seia, devia, mas nitidamente sem saber do que estava a falar (por não conhecer absolutamente nada do quadro clínico do doente).Vim-me embora e fiquei à espera dele, cá fora.Isto eram 21:10h.Para abreviar a história, informo que a ambulância partiu do Hospital com o meu pai dentro às 01:10h da manhã.E o mais grave é que a ambulância que o trouxe, estava estacionada à porta do Hospital há, pelo menos, 4 horas.Seguimos a ambulância até Seia, onde chegámos cerca das 2:15h da manhã.O meu pai estava no pior estado em que o vi na minha vida e apenas arranjou força para me dizer: «foi a pior viagem da minha vida. Não aguento outra».Mal sabia ele que iria ainda fazer mais duas.Entrou no hospital de Seia e duas enfermeiras disseram à minha mãe que o não podia acompanhar a partir daí e que tinha que se ir embora.Fomos.Estávamos arrasados fisica e psicológicamente (como estaria o meu pai...)Terça- feira, 23 de MarçoO meu pai é enviado para a Guarda às 5 da tarde com o pretexto de Seia não ter Pneumologia.Lá foi.Eu ainda me meti no carro para o acompanhar, mas como a minha mãe foi com ele na ambulância, combinei com a minha filha ir vê-lo na tarde do dia seguinte - quarta-feira, que eu tinha a tarde livre, escusava de faltar às aulas. Ela concordou.Mal sabíamos nós que não mais o veríamos vivo.À saída, o meu pai ainda teve a lucidez de se despedir (definitivamente) dela e da mãe, dizendo claramente: «para a Guarda não quero ir, porque eu vou morrer lá.»Quarta-feira 2 de Março.Estive desde as 9 da manhã ininterruptamente (de 5 em 5 minutos) a tentar ligar para o hospital da Guarda.Primeiro para a Pneumologia - consegui ligação às 10:30h da manhã e de lá disseram-me que ainda não tinha dado entrada.Devia estar ainda nas urgências.Liguei para o geral. Informaram-me que não podiam ligar para as Urgências, que tentasse as Relações Públicas.Consegui ligação às 11:45h sensivelmente.Informei que tinha estado toda a a manhã a tentar ligar e que por favor me desse a informação pretendida agora que tinha conseguido, para não me voltar a acontecer o mesmo.Respondeu-me uma senhora muito simpática a dizer que ia ver, e que depois me ligava sem falta nenhuma, para o que lhe dei o meu número, agradecendo muito o obséquio.Não mais me ligou.Às 12:30h, hora a que saí das aulas, tinha à minha espera a minha filha e a mãe, que me deram a pior notícia do mundo.Tal como ele tinha previsto, tinha efectivamente morrido... mas em Coimbra!?Meti-me no carro como um autómato e saí para Coimbra e durante a viagem, em telefonemas múltiplos tentei perceber o que se tinha passado.Só em Coimbra, em conversa com a médica (brasileira) que lhe prestou a última assistência, percebi.Tinham-no enviado do hospital da Guarda para o hospital de Coimbra, onde chegou cerca das 3 da manhã. Sem passarem cartão aos familiares.A médica não soube explicar o que ele tinha, porque não descobriu qualquer relatório médico na recepção e apenas me disse que quando ela entrou, às 10 horas, recebeu o doente vindo da cirurgia (!), mas onde nada lhe tinha sido feito (!!).Estava já em estado crítico e às 10:30h teve a primeira paragem cardíaca.Foi reanimado 3 vezes, até que o coração deixou de bater às 11 horas.Causa da morte: DESCONHECIDA.Portanto:Não se sabe porque foi enviado para Coimbra de madrugada sem o conhecimento dos familiares.Não se sabe o que lhe fizeram na Guarda - presume-se que nada pois nem chegou a entrar na especialidade para a qual foi enviado.Não se sabe o que lhe fizeram em Coimbra até às 10 da manhã - durante as horas em que supostamente terá estado na cirurgia. Presume-se que nada, tal como durante todo o dia 22, pois nada consta do seu relatório médico.Sendo certo que não existem relatórios de medidas tomadas em nenhuma circunstância em Coimbra até às 10 da manhã, sou forçado a concluir que subsiste durante 3 dias seguidos negligência grave, a somar à negligência dos transportes sucessivos a que foi submetido um doente em estado de debilidade extrema.É claro que não é o soro que cura um doente que vem diagnosticado com possibilidade de pneumonia - à qual não foi tratado - ou enfarte de miocárdio - ao qual também não foi tratado.Nada lhe fizeram. A não ser deixá-lo entendido numa maca num corredor dos HUC a definhar visivelmente.E a mim, questionarem-me por ter tirado fotografias.Se usassem a mesma diligência para tratar os doentes, o meu pai estaria vivo.Na participação que fizemos no DIAP eu e o meu irmão "exigimos" a realização da autópsia, corroborando o pedido da médica que ficou extremamente chocada quando lhe dissemos que o doente tinha saído dali, daquele mesmo serviço, meras 27 horas antes.Não sabia! Não tinha qualquer registo nesse sentido!E que, depois disso, o doente já tinha feito mais de 320 quilómetros e corrido mais 2 hospitais até chegar novamente ao ponto de partida, numa dança macabra entre hospitais que terá ajudado bastante ao trágico desfecho.O Ministério Público acedeu e a autópsia foi realizada no dia 25 às 11 da manhã.Aguardam-se as conclusões para se saber aquilo que nenhum médico quis saber, pelo menos em Coimbra: De que padecia aquele doente?Assim se acaba uma vida, inglória e desnecessáriamente, por um acumular de negligências, quando bastava um pouco de cuidado de apenas um médico ou enfermeiro para que tivessem tido o bom senso de não enviarem o doente, naquele estado, muito mais debilitado do que entrou, com dores muito mais agravadas e sem poder ingerir nem sequer uma gota de água, de volta para Seia.Por muito que paguem esta negligência, nada fará ressuscitar o meu pai.Escrevo o que aconteceu para alertar quem ler esta triste história para o estado a que chegaram os Hospitais em Portugal.Para terminar, o pior: toda a gente conhecida que eu lá tinha, no Hospital, me perguntou: mas porque é que tu não me deste um toque? Eu acompanhava o teu pai e a coisa de certeza que não acabava assim...Isto é que dói. Descobrir que a medicina, no Serviço Nacional de Saúde, só funciona minimamente quando há "conhecimentos" e "amizades" entre o corpo clínico.
"http://joaotilly.weblog.com.pt/" Um abraço de solidariedade

segunda-feira, março 26, 2007

Raciocínios cruzados.......

Salazar ganhou o concurso "Grandes Portugueses". cada país tem o povo que merece e cada povo tem que o país que merece. Com portugueses assim não há país que resista....

sexta-feira, março 23, 2007

Linhas cruzadas

(A propósito dos cães que atacaram uma senhora perto de Sintra.)

Uma senhora faleceu em virtude de quatro cães
rottweiller a terem atacado!
- A raça dos cães é que foi a grande culpada?!(
Diz a opinião pública!)
Os rafeiros não mordem assim!-
digo eu!

Afinal, o que é perigoso?

- O cão ou a raça?

já estou confuso!

quarta-feira, março 21, 2007

Para Meditar...

Pedaços de papel.....



...com António Gedeão

POEMA DO FUTURO

conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.

No declive do tempo os anos correm,
deslisam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exhumado
da vala do poema.

Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.

Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.

sexta-feira, março 16, 2007

Para Meditar...

A semana foi pródiga em incidentes com professores. Nada menos de dois casos de agressões graves, com professores vítimas da violência de pais, que se sentiram legitimados a descarregar as suas iras e frustrações naqueles que o Ministério da Educação, com a sua política de desrespeito e insensibilidade, transformou nos elos mais fracos deste nosso pobre sistema educativo. Tivessem esses incidentes ocorrido num estádio de futebol, com um qualquer espectador a atirar, nem que fosse uma moeda à cabeça do árbitro, e teríamos por aí um imenso painel de exuberantes primeiras páginas dos nossos jornais de referência, condenando os actos selvagens e culpando o futebol do desmando dos cidadãos. Mas não foi no futebol, foi na escola, onde os professores, cada vez mais, são vítimas dos ventos semeados por um poder político que não prescinde, e bem, da sua autoridade de poder executivo, mas anula, e mal, a autoridade do professor, dando à escola uma dimensão de regabofe público, que não depende de um sistema perfeitamente organizado e hierarquizado, mas das maiores ou menores competências dos seus Conselhos Directivos, tal como do muito ou do pouco bom senso dos pais, que, assim,tanto podem ser um precioso auxiliar para o sucesso da vida escolar dos seus filhos, como podem constituir, como por vezes por aí se vê, a primeira linha da tremenda alcateia de lobos que devora os desprotegidos técnicos de ensino. Curiosamente, e não por acaso, os jornais também davam conta do regresso a uma discussão pouco académica sobre a importância da Educação Física na formação dos jovens cidadãos portugueses. Alguns, exemplificavam a justeza da dúvida, nomeadamente quanto ao facto da disciplina ser levada asério e contar para nota, recorrendo a um caso exemplar de uma aluna que teria uma média de 19, mas que estaria a ser prejudicada por um reles 11 a Educação Física. Ninguém ousaria colocar a questão se o problema da nota divergente com o propalado brilhantismo da aluna fosse com uma das disciplinas tradicionalmente cotadas pela sociedade. Mas a *ginástica*, como ainda, de forma depreciativa, chamam, à Educação Física, passa-se muito bem sem ela. Podemos ter uma população de obesos, de jovens que não têm coordenação a correr, que se sedentarizam na ocupação excessiva dos incontornáveis aliciantes do computador. Podemos promover uma geração que apenas se desenvolve e cresce na metade de si própria, esquecendo o corpo,pior, condenando o corpo a uma estúpida inexistência. Tudo, em nome dos preconceitos de uma sociedade de modas e estigmas. A questão da educação desportiva, não é uma questão menor. Além de ser uma questão de saúde pública, é uma questão essencial à formação dos cidadãos.
"Vitor Serpa in A Bola"

segunda-feira, março 12, 2007

Linhas cruzadas

Apetece-me falar de coisas, acerca de coisas e algumas coisas. Mas não o faço, apenas de conta. E será que me faço entender por assim ser? Tenho receio de entender quem não me entende.

domingo, março 04, 2007

Pensamento do dia

«Assim me disse um dia o diabo: `Deus também tem o seu inferno: é o seu amor pelos homens´. E ultimamente ouvi-lhe dizer estas palavras: ´Deus morreu, matou-o a sua piedade pelos homens´.

(F. Nietzsche; Assim falava Zaratrustra)
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