quarta-feira, setembro 27, 2006

Pedaços de papel...



"Lenda do príncipe transformado em crocodilo"

É mais uma lenda, entre cujas figuras nos aparece também o crocodilo, contada por responsáveis velhos (Katuas). Existiu um jovem príncipe muito preguiçoso, que passava os dias sem trabalhar e a jogar o Klaleik e o pião.

Pelo meio dia, os seus irmãos voltavam para comer, depois do trabalho nas hortas e ele nunca queria sentar-se com eles à mesa. Isto repetia-se todos os dias e aconteceu assim até ele ser homem feito. Os irmãos, zangados, participaram aos pais tão estranho procedimento. Os velhotes mandaram amolgar caroços de Klaleiks e com semente de camim, colocaram-nos no fundo do prato com arroz por cima, para a refeição dele.


O príncipe infante comeu até quase esvaziar o prato e encontrou aquelas insólitas iguarias. Compreendeu logo tudo muito bem e ficou envergonhado e triste, mas nada disse. Ele tinha um pagem de nome
Mau-Berek [Lagarto], que chamou, e entregando-lhe algumas coisas para transportar.
Príncipe, para onde vamos nós sem as vossas provisões, nem a minha ração?
Cala-te, e segue-me para onde eu for; o nosso fadário é este; a felicidade é de meus irmãos.

E lá partiram, o príncipe à frente e Mau-Berek atrás. Chegados à cofluência de duas ribeiras, disse o príncipe que ia tomar banho e que ele repousasse. O escravo fixava a vista no seu senhor, que nadava continuamente indo e vindo. Reparou, atónito, que as pernas do príncipe, unidas, se tranformavam numa cauda fina como a do crocodilo, o mesmo acontecendo às mãos; só o rosto continuava a ser de gente.

Mau-Berek
assustou-se, e o príncipe disse-lhe:não tenhas medo, o nosso fadário é este. Passado pouco tempo, o escravo viu o senhor transformado em grande crocodilo malhado, vagueando repousadamente no meio da ribeira. Depois, o crocodilo ordenou ao Mau-Berek que se metesse na água e pouco a pouco transformou-se num lagarto. Ao homem a quem isto aconteceu, chamam-lhe uns, lafaek rai maran (crocodilo terra seca); outros, laku-taru, e outros, Mau-Berek.

Por cortesia, texto de Mário Simões Dias, in "Timor e as suas lendas"
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