Para Meditar...

A chuva e o bom tempo

Desta vez foi a chuva, há nove anos foi o bom tempo. Trinta anos depois do 25 de Abril, para muitos portugueses qualquer pretexto é hoje bom para não votar; em 1998 a maioria foi para a praia; agora foi passear para os "shoppings". Se, em democracia, "o povo tem sempre razão", talvez os políticos devessem tentar perceber as razões do desinteresse pela política e, pior, pela participação cívica. Porque a mais importante dessas razões está neles próprios. O desprestígio a que chegaram os políticos e a política contamina hoje a própria democracia, assumindo o ressentimento popular às vezes formas perversas, como a "retoma" do Portugal salazarento a propósito de um concurso televisivo ou em alguma argumentação a que se assistiu na recente campanha do referendo. Os partidos perderam completamente as referências ideológicas (nisto, Manuel Alegre tem inteira razão) e tornaram-se meros agrupamentos de interesses. Quem se pode surpreender que os cidadãos se demitam da política e, por acréscimo, da própria participação cívica? Há uma expressão em francês, "la pluie et le bon temps", que significa irrisão, "bla, bla, bla". Falemos, pois, de novo da chuva e do bom tempo para justificar a abstenção de ontem. Da próxima vez há-de ser a temperatura moderada.

"in Jn"