Para Meditar...
Assustador e impressionante a confirmarem-se estas investigações:
O que se passa no cérebro das pessoas num estado vegetativo persistente? Será que conseguem sentir a presença dos familiares e amigos, será que percebem o que se passa à sua volta, embora pareçam ausentes? Esta dúvida faz sofrer muitas pessoas, e está na base de obras de ficção comoventes, como o filme “Fala com ela”, de Pedro Almodóvar. Cientistas britânicos e belgas tentaram perceber o que se passava no cérebro de uma mulher de 23 anos que estava num estado vegetativo há cinco meses, e tiveram uma grande surpresa: quando lhe pediram para imaginar que jogava ténis, activaram-se as mesmas áreas do cérebro usadas por voluntários saudáveis para imaginar o mesmo.
“O estado vegetativo é uma das condições menos compreendidas e eticamente mais complicadas da medicina moderna”, escreve a equipa de Adrian Owen, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, num artigo publicado amanhã na revista “Science”. “Este termo descreve uma desordem que afecta os pacientes que saem de coma: parecem acordados, mas sem captarem o que os rodeia.” No entanto, estudos que usaram técnicas que permitem observar o cérebro em funcionamento mostraram que podem existir “ilhas de função cerebral preservadas numa pequena percentagem de doentes”, escrevem os autores, para explicar por que tentaram esta experiência.“Apesar de o diagnóstico depender de não existirem provas de comportamentos propositados para responder a estímulos externos”, a equipa tentou medir as eventuais respostas da doente — que preenchia todos os critérios para se considerar que estava num estado vegetativo, apesar de ter preservados os ciclos de sono e vigília —, interpelando-a directamente. Para isso, os cientistas usaram um exame denominado ressonância magnética funcional, através do qual se pode ver quais as áreas do cérebro activadas para responder a uma determinada situação, medindo alterações nos níveis de circulação sanguínea.“Este café tinha leite e açúcar”Primeiro, mediram-se as respostas neuronais da paciente a frases simples, como “este café tinha leite e açúcar.” Depois, viram como reagia a barulhos sem sentido e frases em que se usavam palavras homófonas, em que era preciso distinguir o significado das palavras para compreender o que tinha sido dito. Os padrões de actividade cerebral da paciente foram comparados com o que se passava no cérebro de pessoas saudáveis expostas aos mesmos estímulos e surgiu a primeira surpresa: “Foi observada actividade relacionada com o processamento da fala (...) equivalente à dos voluntários saudáveis.” Mas, apesar de impressionantes, estes resultados não permitiam tirar conclusões inequívocas: “Muitos estudos de aprendizagem implícita, bem como durante a anestesia e o sono, demonstraram que algumas funções cognitivas, como a percepção da fala e o processamento semântico, podem continuar na ausência de consciência.” Por isso, os cientistas fizeram uma segunda experiência.Desta feita, pediram à paciente que imaginasse que estava a jogar ténis, e a passar por todas as divisões da sua casa, começando pela porta da frente. Mais uma vez, os seus padrões de actividade cerebral assemelharam-se aos dos voluntários saudáveis, e mantiveram-se durante cerca de 30 segundos. “Estes resultados confirmam que, apesar de preencher os critérios clínicos para o diagnóstico de estado vegetativo, esta paciente retém a capacidade de compreender comandos falados e responder-lhes, através da actividade cerebral, se bem que não através da fala ou de movimentos”, escrevem os cientistas. Além disso, o facto de ela ter decidido colaborar com os cientistas mostra “um acto claramente intencional, o que confirma para além de qualquer dúvida que ela estava consciente de si própria e do que a rodeava.”Convém, no entanto, não tirar grandes conclusões deste estudo. Generalizar a partir de um só caso é demasiado, sublinha o especialista em imagens neurológicas Lionel Nacchache, num comentário publicado na “Science”. Mas, pelo menos, sugere um método para tentar descobrir quais os pacientes que, apesar de parecerem não comunicativos, podem ter capacidades cognitivas residuais — e dar-lhes meios para “comunicarem os seus pensamentos, modulando a sua actividade neuronal”, escreve a equipa de Owen".
O que se passa no cérebro das pessoas num estado vegetativo persistente? Será que conseguem sentir a presença dos familiares e amigos, será que percebem o que se passa à sua volta, embora pareçam ausentes? Esta dúvida faz sofrer muitas pessoas, e está na base de obras de ficção comoventes, como o filme “Fala com ela”, de Pedro Almodóvar. Cientistas britânicos e belgas tentaram perceber o que se passava no cérebro de uma mulher de 23 anos que estava num estado vegetativo há cinco meses, e tiveram uma grande surpresa: quando lhe pediram para imaginar que jogava ténis, activaram-se as mesmas áreas do cérebro usadas por voluntários saudáveis para imaginar o mesmo.
“O estado vegetativo é uma das condições menos compreendidas e eticamente mais complicadas da medicina moderna”, escreve a equipa de Adrian Owen, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, num artigo publicado amanhã na revista “Science”. “Este termo descreve uma desordem que afecta os pacientes que saem de coma: parecem acordados, mas sem captarem o que os rodeia.” No entanto, estudos que usaram técnicas que permitem observar o cérebro em funcionamento mostraram que podem existir “ilhas de função cerebral preservadas numa pequena percentagem de doentes”, escrevem os autores, para explicar por que tentaram esta experiência.“Apesar de o diagnóstico depender de não existirem provas de comportamentos propositados para responder a estímulos externos”, a equipa tentou medir as eventuais respostas da doente — que preenchia todos os critérios para se considerar que estava num estado vegetativo, apesar de ter preservados os ciclos de sono e vigília —, interpelando-a directamente. Para isso, os cientistas usaram um exame denominado ressonância magnética funcional, através do qual se pode ver quais as áreas do cérebro activadas para responder a uma determinada situação, medindo alterações nos níveis de circulação sanguínea.“Este café tinha leite e açúcar”Primeiro, mediram-se as respostas neuronais da paciente a frases simples, como “este café tinha leite e açúcar.” Depois, viram como reagia a barulhos sem sentido e frases em que se usavam palavras homófonas, em que era preciso distinguir o significado das palavras para compreender o que tinha sido dito. Os padrões de actividade cerebral da paciente foram comparados com o que se passava no cérebro de pessoas saudáveis expostas aos mesmos estímulos e surgiu a primeira surpresa: “Foi observada actividade relacionada com o processamento da fala (...) equivalente à dos voluntários saudáveis.” Mas, apesar de impressionantes, estes resultados não permitiam tirar conclusões inequívocas: “Muitos estudos de aprendizagem implícita, bem como durante a anestesia e o sono, demonstraram que algumas funções cognitivas, como a percepção da fala e o processamento semântico, podem continuar na ausência de consciência.” Por isso, os cientistas fizeram uma segunda experiência.Desta feita, pediram à paciente que imaginasse que estava a jogar ténis, e a passar por todas as divisões da sua casa, começando pela porta da frente. Mais uma vez, os seus padrões de actividade cerebral assemelharam-se aos dos voluntários saudáveis, e mantiveram-se durante cerca de 30 segundos. “Estes resultados confirmam que, apesar de preencher os critérios clínicos para o diagnóstico de estado vegetativo, esta paciente retém a capacidade de compreender comandos falados e responder-lhes, através da actividade cerebral, se bem que não através da fala ou de movimentos”, escrevem os cientistas. Além disso, o facto de ela ter decidido colaborar com os cientistas mostra “um acto claramente intencional, o que confirma para além de qualquer dúvida que ela estava consciente de si própria e do que a rodeava.”Convém, no entanto, não tirar grandes conclusões deste estudo. Generalizar a partir de um só caso é demasiado, sublinha o especialista em imagens neurológicas Lionel Nacchache, num comentário publicado na “Science”. Mas, pelo menos, sugere um método para tentar descobrir quais os pacientes que, apesar de parecerem não comunicativos, podem ter capacidades cognitivas residuais — e dar-lhes meios para “comunicarem os seus pensamentos, modulando a sua actividade neuronal”, escreve a equipa de Owen".
Por cortesia "jornal o público"
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