segunda-feira, setembro 04, 2006

escritor Naguib Mahfouz, deixou a literatura mais pobre

O escritor Naguib Mahfouz, Prémio Nobel da Literatura em 1988, morreu, na passada quarta-feira, aos 94 anos, na sequência de uma insuficiência renal, de uma pneumonia e problemas ligados à sua idade avançada, no Hospital da Polícia de Al Aguza, no Cairo, onde se encontrava internado desde o dia 18 de Julho.Cerca de mil pessoas assistiram ao funeral religioso do escritor, na presença da viúva deste e dos seus dois filhos, para além de Hosni Mubarak, o presidente egípcio e de Mohammed Sayyed Tantawi, a mais alta autoridade religiosa do Egípto.Tantawi salientou, durante a homenagem, que “Naguib Mahfouz fez reconhecer a literatura egípcia e árabe no mundo”.Naguib Mahfouz era considerado pela crítica o maior cronista do Egipto da actualidade, tendo sido o único escritor de língua árabe premiado com o Nobel da Literatura,O mais novo de sete filhos de um funcionário público, Mahfouz, nascido a 11 de Dezembro de 1911, casado e pai de duas filhas, adquiriu um profundo conhecimento da literatura medieval e arábica durante o bacharelato. Quando frequentava a Universidade Rei Faruk I (a actual Universidade do Cairo), onde estudou Filosofia, começou a escrever artigos para revistas especializadas, como Al-Mayal, Al-Yadid e Ar-Risala.Em 1932, para aperfeiçoar o domínio da língua inglesa, traduziu para árabe a obra de James Baikie sobre o Egipto antigo.Terminados os estudos, começou a escrever ficção e publicou bastantes contos nos anos seguintes. Em 1938, lançou uma colectânea intitulada «Whisper of Madness» (Sussurro de Loucura)”.Entre 1939 e 1954, enquanto trabalhava no Ministério de Assuntos Religiosos, publicou três volumes de uma projectada série de 40 novelas históricas passadas no período faraónico.Posteriormente, abandonou esse projecto e dedicou-se a escrever sobre temas sociais, ao mesmo tempo que elaborava vários guiões para cinema. A esta fase pertence, por exemplo, o filme «Bidayah wa-Nihayah» (O Princípio e o Fim)”, que contou com a participação do jovem Omar Sharif.Naguib Mahfouz é considerado um dos escritores árabes contemporâneos mais inovadores, sendo o tema central das suas novelas o homem e a sua impotência para lutar contra o destino e certas convenções sociais.Em 1947, lançou o romance «A Viela de Midaq», que se tornou uma das suas obras mais famosas, passada para o grande ecrã pelo realizador mexicano Jorge Fons, que a situou no México actual e com a qual ganhou o Prémio Goya para o Melhor Filme Estrangeiro de Língua Espanhola em 1996.No clima de mudança política que se seguiu à queda da monarquia egípcia, em 1952, a sua «Trilogia do Cairo» (1956-1957) obteve um grande êxito. A obra é inspirada na sua biografia e narra a história de uma família humilde durante o período entre 1917 e 1944 no Egipto.Apelidado como «Balzac do Egipto», fez, ao longo da sua carreira, experiências com a técnica narrativa e, em especial, com o monólogo e a literatura do absurdo, numa produção que inclui cerca de 40 novelas e colecções de contos, na maioria traduzidos em inglês e francês.Mahfouz foi também um escritor politicamente comprometido, tendo manifestado apoio incondicional ao tratado de paz entre o Egipto e Israel em 1978, o que lhe custou a inclusão nas listas negras de vários países árabes.No final da década de 80, o líder islâmico radical Omar Abdel Rahman, actualmente na prisão pelo atentado às Torres Gémeas de Nova Iorque em 1993, condenou-o à morte pelo seu mais famoso romance, «Children of Gebelaawi» (Filhos do Nosso Bairro). Esta obra, que lhe valeu o reconhecimento mundial, está, paradoxalmente, proibida no Egipto, desde a publicação em 1959 de vários fragmentos num jornal diário do país.Mahfouz foi, além disso, alvo de vários atentados. Em 1994, foi apunhalado no pescoço por um fundamentalista e dois anos mais tarde foi classificado como herege e sentenciado à morte por grupos islâmicos radicais. Desde então, permaneceu praticamente em reclusão domiciliária, com saídas esporádicas e controladas pela polícia.Em 1988, a Academia Sueca galardoou-o com o Prémio Nobel da Literatura, por “ter elaborado uma arte novelística árabe com validade universal”. Conta ainda, entre outros, com o Prémio da Academia da Língua Árabe e o Prémio Egípcio da Literatura. Candidato ao Prémio Príncipe das Astúrias em 2000, deu o seu nome a um prémio de tradução promovido pelo Instituto Cervantes.Há três anos, foi hospitalizado depois de sofrer uma repentina crise cardíaca. A sua saúde começou a deteriorar-se em 1994, após o esfaqueamento, que lhe causou graves danos na visão e audição, bem como uma paralisia do braço direito.

por cortesia de O Primeiro de Janeiro (4.09.2006)
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