sábado, agosto 05, 2006

Estórias mundanas...

Os pensamentos dele recuaram anos parando naquele dia da sua infância. Recordou o seu olhar triste, vendo os miúdos brincando tendo a vantagem de compartilharem um mundo que para ele ainda era inacessível. Encostado a um canto aguardava que alguém reparasse nele, novato, raquítico. Ele também sabia brincar, podia também ser cúmplice de brincadeiras… mas estava deslocado; tinha aparecido mais tarde e não se evidenciava fisicamente dos outros.
Naquele dia encheu-se de coragem, ninguém o iria gozar! Não iria ficar isolado! Aproximou-se dos outros…e, tudo foi muito rápido! Quando deu conta estava no chão a ser pontapeado e cuspido…fechou os olhos, deixou de ouvir, ninguém escarnecia dele. A medo…libertou as pálperas do peso da dor e da vergonha e viu uns lindos olhos azuis a acariciar-lhe as feridas. Um anjo! Pensou ele….só podia ser…
Os pensamentos pararam, virou-se na cama e beijou o rosto onde moram os olhos azuis que lhe apaziguaram as dores físicas e da alma durante toda a vida.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E ouviu aquela voz conhecida de dias e anos, aquela voz que era o seu refúgio, dizer :
- Porra, deixa-me dormir. São quatro da manhã. Chega-te para lá.
E, reposta a ordem natural das coisas, adormeceu apaziguado nas certezas previsíveis.

2:34 da tarde  
Blogger alexandre osório said...

É à noite que somos mais introspectivos...
jamais esqueço aquele anjo da guarda que supervisionava os meus pesadelos...
e recordo aquela oração da minha avó antes de dormir:
"Anjo da guarda minha companhia, guardai a minha alma de noite e de dia"...
há noites em que o "anjo da guarda" me revisita...

5:22 da tarde  

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